Inteligência Artificial e o bem comum: escolhas que moldam o futuro

Entre promessas de inovação e riscos de exclusão, como garantir que a IA seja uma aliada da equidade?

A Inteligência Artificial deixou de ser uma promessa futurista e já faz parte do presente. Da personalização de conteúdos educacionais à tradução automática de textos, seu alcance não para de crescer. Estimativas globais apontam que, até 2030, a IA pode gerar até US$ 15 trilhões em valor econômico. Mas esse número  por si só não responde à pergunta mais importante: quem terá acesso a esse valor e de que forma ele será distribuído na sociedade?

Os resultados do uso da tecnologia refletem escolhas humanas: como projetamos, para quem destinamos e em quais contextos aplicamos cada solução. Por isso, pensar na IA como ferramenta de equidade significa olhar para além do potencial econômico e perguntar: que soluções de impacto ela pode, de fato, ajudar a resolver?

Potenciais de impacto positivo
Quando orientada para o interesse público, a Inteligência Artificial pode se tornar uma aliada poderosa em desafios sociais complexos. O país já conta, inclusive, com iniciativas nacionais que integram a IA às políticas educacionais. O Plano Brasileiro de Inteligência Artificial (PBIA 2024–2028) prevê o uso de sistemas de tutoria inteligente em matemática, recursos adaptativos para alfabetização e ferramentas de monitoramento de trajetórias estudantis, sempre com o objetivo de apoiar professores e melhorar a aprendizagem.

No Piauí, o tema foi incorporado à grade obrigatória do ensino fundamental, tornando o estado pioneiro no ensino de IA para crianças e adolescentes, em uma experiência reconhecida pela UNESCO como um avanço significativo para a educação do século XXI. Esses exemplos revelam que, quando conectada às necessidades reais das pessoas, a Inteligência Artificial tem o potencial de reduzir desigualdades e gerar valor social. O desafio, no entanto, é garantir que tais iniciativas não sejam exceção, mas parte de uma estratégia estruturada de inovação voltada ao bem comum.

Riscos e dilemas que não podem ser ignorados
Ao mesmo tempo em que abre novas possibilidades, a IA traz dilemas complexos. Modelos treinados com dados enviesados podem reproduzir preconceitos e desigualdades já existentes, perpetuando exclusões em vez de corrigi-las. Outro risco é a exclusão digital: populações sem acesso à internet ou a dispositivos compatíveis simplesmente ficam fora da revolução tecnológica, ampliando a desigualdade.

Também existe o perigo das soluções simplistas: algoritmos que prometem respostas rápidas para problemas sociais profundos, mas sem levar em conta os contextos locais. Nesse cenário, a tecnologia corre o risco de ser mais um instrumento de desigualdade, em vez de uma alavanca de oportunidades.

O futuro em disputa
A IA pode tanto abrir portas para novas oportunidades quanto consolidar desigualdades. A tecnologia, por si só, não garante nenhum dos dois caminhos. O que fará diferença são as escolhas coletivas que fazemos hoje: como regulamos, a quem priorizamos e de que forma decidimos investir.

Na Fundação Lemann, acreditamos que inovação deve estar relacionada ao impacto social positivo. Isso significa colocar a equidade no centro da agenda tecnológica e garantir que o recurso esteja a serviço de todas as pessoas.

O futuro da inteligência artificial não está escrito. Ele será definido pelas decisões que tomarmos agora, e esse é o verdadeiro desafio: alinhar avanço tecnológico e justiça social, para que inovação e equidade caminhem lado a lado.

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