“O Brasil acertou ao proibir o uso de celulares nas escolas e foi um dos pioneiros a implementar essa norma nacionalmente”. Essa é a avaliação do psicólogo social norte-americano Jonathan Haidt, especialista em tecnologia na infância e adolescência que participou de um evento em São Paulo, na manhã desta terça-feira (20/05). O encontro foi realizado pela Fundação Lemann, com articulação da deputada federal Marina Helou, que é integrante da Rede de Líderes da organização desde 2018. Para o debate, foram convidados parlamentares, gestores públicos, jornalistas, influenciadores, lideranças do terceiro setor e especialistas.
Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann, fez a abertura do evento destacando a importância de uma ação coletiva para mitigar os prejuízos do uso da internet para crianças e adolescentes – envolvendo não só as famílias, mas também academia, sociedade civil, parlamentares e gestores públicos. “A Fundação Lemann tem trabalhado há muitos anos para garantir que todas as crianças brasileiras desenvolvam a aprendizagem que merecem e a que o Brasil precisa que elas tenham. Nós sempre acreditamos que a tecnologia tem lugar nesse debate, e é importante pensar como é o lugar da escola, o que deveria acontecer nesse ambiente e qual é o jeito saudável de se relacionar com essas ferramentas”, afirmou.
Marina Helou, deputada federal responsável pelo projeto de lei que proíbe o uso de celulares e outros aparelhos eletrônicos em escolas públicas e privadas de São Paulo, fez a mediação da conversa. E destacou: “Temos a chance, a partir de uma de um tópico tão importante, de encontrar pontos de acordo. Talvez esse seja um dos tópicos recentes que mais nos trouxe a possibilidade de furar a polarização paralisante que temos hoje na sociedade. E, a partir disso, colocar as crianças e adolescentes no centro das nossas preocupações e criar pontes de diálogo para pensar políticas públicas”.
Danos físicos e mentais
Durante a apresentação, Jonathan Haidt trouxe insumos de seu livro mais recente, “A Geração Ansiosa – Como a infância hiperconectada está causando uma epidemia de transtornos mentais”. Além dos danos físicos causados em crianças e adolescentes pelo excesso de tela, como obesidade e insônia, ele destacou a crise de saúde mental que têm atingido esse público. A partir de dados do Brasil e do mundo, o psicólogo mostrou o aumento de casos de depressão, autolesão e suicídio na última década. De acordo com o livro, a causa seria uma reprogramação da infância, que passou de “cheia de aventuras” para uma fase solitária.
No entanto, ele defendeu que ainda maior do que a perda da saúde mental é a perda da capacidade de manter a atenção. E isso se reflete, especialmente, na educação. “Claro que a Covid-19 foi terrível para o ensino, pois tiramos as crianças da escola e colocamos em frente a telas. Mas ninguém notou que a queda na aprendizagem não começou em 2020, mas em 2012”, explicou Haidt, se referindo ao período em que os smartphones ficaram mais populares entre os jovens. “Parece que estamos observando não um declínio da leitura em si, mas uma erosão mais ampla da capacidade humana de foco mental e dedicação”. E complementou: “Se você se preocupa com equidade e com desigualdade, os efeitos do ambiente digital são o principal fator que deveria observar, porque eles afetam especialmente os alunos mais vulneráveis — aqueles que se distraem com facilidade e que provavelmente passam a maior parte do tempo jogando videogame”.
Como solução para mitigar o impacto da tecnologia entre crianças e jovens, Haidt sugeriu quatro orientações coletivas a serem seguidas pela sociedade:
- Uso de smartphones após os 14 anos;
- Uso de redes sociais após os 16 anos;
- Escolas sem celulares;
- Mais independência, brincar livre e responsabilidades no mundo real.
Além disso, o psicólogo destacou organizações que têm atuado nesse sentido, como o Movimento Desconecta, no Brasil, e o Let Grow, nos Estados Unidos.