Antes da Sara, eu não sabia ler
Há alguns anos, produzimos um vídeo com estudantes para celebrar o Dia dos Professores. Uma das alunas entrevistadas, a Amanda, ao ser questionada sobre de que mais gostava em sua professora, declarou:
"A Sara me ensinou a ler. Antes da Sara, eu não sabia ler."
Até hoje, essa resposta nos emociona. É uma fala tão simples e, ao mesmo tempo, tão poderosa! Poucas pessoas promovem uma transformação tão grande nas nossas vidas quanto aquelas que nos ensinam a ler. O impacto de cada professor e professora para seus alunos é dessa magnitude. Eles nos apresentam chaves que ajudam a decodificar o mundo, criam oportunidades, transformam futuros. Apesar das memórias que muitos temos de professores que mudaram nossas vidas e dos estudos que mostram que um bom professor é o fator intraescolar que melhor prediz a aprendizagem, a valorização docente ainda é um desafio no Brasil.
Pesquisas recentes com professores de todo o país trazem números contundentes: 74% dos professores declaram que veem a carreira desvalorizada pela sociedade e metade diz que não recomendaria a carreira para a nova geração, principalmente por ser uma profissão pouco reconhecida socialmente. Levantamentos também são consistentes ao mostrar que os professores não querem apenas aumento de salário para se sentirem mais valorizados. No topo da lista, desejam ser mais ouvidos no debate público educacional e engajados na construção de políticas e iniciativas que impactam a sala de aula.
Nos últimos anos, temos feito um grande esforço para garantir que essa escuta e essa participação aconteçam. Apoiamos a criação e o desenvolvimento da Conectando Saberes, uma rede de professores que busca fortalecer a profissão e construir, em conjunto, soluções para os desafios da escola pública. Hoje, a Conectando está em todos os estados do país, com cerca de 900 profissionais, divididos em 89 núcleos. A conexão em rede permitiu que esses professores ocupassem novos espaços, como participação em seminários nacionais e internacionais, presença em conselhos de organizações de impacto social e convites para contribuir com políticas públicas em suas respectivas secretarias de Educação e até no Congresso. Por meio da Nova Escola, também ajudamos a valorizar os professores como os especialistas que são em Educação. "Professores autores” de todo o país estiveram no centro da criação de recursos pedagógicos como planos de aulas e livros didáticos. A aposta de que materiais “de professor para professor” fazem mais sentido se provou verdadeira. Durante a pandemia, planos de aula criados por professores autores foram usados por mais de 1 milhão de usuários únicos por mês. Com pesquisas de opinião frequentes, também seguimos tentando amplificar a voz dos docentes. É um jeito de fazer algo em que acreditamos muito: engajar e ouvir genuinamente quem está na sala de aula, para que as políticas e as mudanças em Educação possam ser, de fato, efetivas.
A pandemia, que trouxe impactos devastadores para a Educação, ao menos no aspecto da valorização dos professores, parece ter impulsionado uma mudança positiva. Após viverem o desafio do ensino remoto por quase dois anos, 89% dos pais e responsáveis entrevistados em dezembro de 2021 para uma pesquisa reconhecem que os docentes têm um trabalho mais desafiador do que acreditavam e que é preciso mais preparo do que imaginavam.
Formar, apoiar e valorizar os professores é condição indispensável para concretizar o sonho de uma Educação pública de qualidade. Podemos (e devemos) melhorar outras condições-chave, como gestão, financiamento, recursos pedagógicos, priorização política da Educação pelos governantes. Mas, no fim, é dentro de cada sala de aula, na relação de confiança que se estabelece entre cada professor e seus alunos, que a aprendizagem acontece.
Artigo escrito para o livro “Professores em foco: 80 reflexões sobre a importância da profissão para o desenvolvimento do Brasil” por Camila Pereira, Diretora de Educação, e Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann.