Brasil pode ser ‘uma das principais forças na revolução da IA’, diz Sam Altman
Uma “revolução imparável”. Assim o CEO da OpenAI, Sam Altman, define o salto da inteligência artificial no mundo. À frente da empresa que criou o ChatGPT, ferramenta que alcançou um milhão de usuários em apenas cinco dias, ele veio ao Brasil a convite da Fundação Lemann para a conversa “O Futuro da IA e o Brasil”, no Museu do Amanhã. O encontro foi concebido para ampliar o diálogo e trazer o país para o centro do debate global sobre inteligência artificial. Ao lado da ativista e cientista da computação Nina da Hora e do CEO da Fundação Lemann, Denis Mizne, Altman respondeu a perguntas sobre potencialidades, riscos e desafios no desenvolvimento das tecnologias que vão alterar nossa forma de estar no mundo, como ocorreu, por exemplo, com o advento da eletricidade ou da internet.
Para Altman, no futuro, as pessoas seguirão no centro, e as IA’s terão a função de alavancar avanços científicos e sociais para que ocorram de forma mais acelerada. “Uma das coisas que me entusiasma nessa tecnologia – e que é diferente de outras que vimos antes – é o grau com que ela pode aprender com a linguagem humana. Então, como um ideal platônico, você pode imaginar que bilhões de pessoas ao redor do mundo vão ajudar e contribuir para alimentar as IA’s”, disse Altman. Como todas as tecnologias, a inteligência artificial tem potencialidades positivas e negativas. Para o CEO da OpenAI, as IA’s poderão ajudar a humanidade a atingir “progressos científicos extremamente rápidos”. Na área da educação, por exemplo, ele citou os tutores artificiais: “Cada aluno pode ter um professor personalizado, um especialista em cada assunto, especialista na maneira como aquele aluno aprende. No futuro, você poderá ter o mesmo tutor artificial ao longo de toda a vida”.
Sobre os riscos em torno das IA’s, o CEO da Fundação Lemann lembrou que há a ameaça de ferramentas reproduzirem estruturas sociais não igualitárias e acentuarem problemas graves como o racismo estrutural. A ativista Nina da Hora, que vem se debruçando sobre estudos de justiça algorítmica, defendeu a importância de desenvolvedores negros não-americanos participarem da construção das IA’s. “Podemos trazer o sistema de valores da humanidade para as IA’s de uma forma que não conseguimos antes”, replicou Altman. “Diferentes pessoas em diferentes lugares precisam ser capazes de pressionar os modelos para atender aos valores de seus países. Sou otimista de que esses sistemas serão usados para reduzir a quantidade de preconceito no mundo.”
Na perspectiva do Brasil, Nina da Hora avalia que o país tem pelos próximos anos uma oportunidade incrível de “reconstruir a ciência e a tecnologia”. “Espero que quem esteja voltando para cá ou indo para fora, tenha em mente que nós precisamos olhar e trabalhar pelo Brasil”, disse a ativista. Sam Altman lembrou que já dirigiu uma empresa que investia em start-ups – “e as brasileiras sempre superaram o que víamos na maior parte do resto do mundo”, completou. “Minha esperança é que o Brasil seja uma das principais forças na revolução da IA.”
Para tornar melhores, com menos vieses e mais seguras as IA’s, Altman reconhece a importância do diálogo contínuo com a sociedade. “Queremos que as pessoas tenham tempo para descobrir coletivamente como querem que essa tecnologia funcione. E assim lançamos esses sistemas no mundo. Mas fizemos isso sabendo que existe um grande custo em acelerar o mundo. Por outro lado, não acho que você possa descobrir a resposta para a segurança de inteligências artificiais no vácuo. Realmente precisamos de interação e diálogo, para que a sociedade e a tecnologia coevoluam. Quanto melhores sistemas tivermos, melhores pesquisas de segurança poderemos fazer”, disse.
Outro assunto que ganhou ênfase na conversa foi o futuro do trabalho diante do avanço das IA’s. Segundo Altman, “muitos empregos vão desaparecer”. Ele afirma, porém, que “muitos empregos vão melhorar”: “De forma ampla, acho que são ferramentas muito boas em realizar tarefas. Elas ainda não são boas em fazer trabalhos inteiros, mas vão continuar melhorando. E queremos ser honestos sobre isso, mesmo que seja desconfortável: a perda de empregos acontece a cada revolução tecnológica. Se pudermos dar muito mais produtividade às pessoas, teremos mais impacto”.
Para Denis Mizne, a conversa com Altman abre uma oportunidade de diálogo amplo, pautado na diversidade de ideias, como forma de mitigar riscos e direcionar o desenvolvimento ético e sustentável das tecnologias. O encontro é também parte de um esforço da Fundação Lemann para incluir o Brasil em questões de escala global. “Na pandemia, fomos em busca de caminhos para não deixar o país para trás do debate que estava posto naquele momento, o combate à emergência sanitária. A melhor aposta foi investir nos testes da vacina de Oxford e, depois, viabilizar a transferência de tecnologia de forma permanente para o Brasil. Olhando para uma nova ameaça – e agora uma oportunidade global – que se desenha com o salto da inteligência artificial, a fundação faz movimento semelhante: aproxima-se de quem está à frente do tema para colocar o Brasil não como um observador passivo, mas como um país que pode participar das transformações, seja para aproveitar seus benefícios, seja para garantir que seremos incluídos no desenvolvimento e na regulação das IA’s”.