Fundação Lemann e Central Square Foundation promovem histórico encontro Brasil-Índia sobre educação

O evento Bridges to Change reuniu organizações dos dois países para compartilhar experiências

A Fundação Lemann, em parceria com a Central Square Foundation (CSF) da Índia, promoveu entre os dias 9 e 11 de setembro em São Paulo o Bridges to Change, um encontro inédito que reuniu dezenas de organizações filantrópicas, ONGs e especialistas do Brasil e da Índia para compartilhar experiências, trocar práticas concretas e enfrentar juntos os grandes desafios de garantir a aprendizagem de cada criança.

O evento partiu do reconhecimento de que Brasil e Índia são atores-chave no Sul Global. Como destaca Denis Mizne, CEO da Fundação Lemann, “esses dois países, que têm enormes desigualdades e enorme potencial, têm o seu maior diferencial nas suas pessoas”. Juntos, os países reúnem mais de 1,6 milhão de escolas e 10 milhões de professores.

Cinco eixos de transformação

As discussões do Bridges to Change se concentraram em cinco temas centrais para o avanço da educação, sempre considerando aspectos de diversidade, equidade e inclusão:

Políticas Públicas 

Um dos grandes aprendizados compartilhados foi a importância do compromisso político sustentado. Vinod Karate, Diretor de Reformas FLN (Alfabetização e Numeracia Fundamentais) da Central Square Foundation, destacou que Índia aprendeu muito, especialmente em alfabetização e aprendizagem inicial, com o que funcionou em vários lugares do mundo, e citou o caso de Sobral, no Ceará, como exemplo. “O que me impressionou no caso de Sobral foi a grande vontade política demonstrada, em que os municípios foram incentivados a competir, mas de uma forma positiva, em que incentivos orçamentários eram oferecidos aos municípios que atingirem determinadas metas. Isso mostra de fato a vontade política de gerar responsabilidade em torno dos resultados. Então isso é realmente fascinante. Vamos, de certa forma, olhar isso mais a fundo”.

Inovação e Tecnologia

A Índia se destacou como referência em infraestrutura pública digital, especialmente em como organizar sistemas de gestão escolar. Como observa Mizne, “uma coisa que a gente aprende com eles é todo esse lado de tecnologia. Mas não é tecnologia como software que vai ensinar matemática, é tecnologia para organizar a frequência, organizar a alocação dos professores, organizar a gestão das notas, o histórico escolar”.

Khushboo Awasthi, cofundadora e diretora de operações da ShikshaLokam, enfatizou que “a tecnologia nos ajuda a obter os dados, e têm um papel muito importante em ajudar líderes a tomarem decisões. Os números devem estar disponíveis para mim quando eu precisar deles e em tempo real, permitindo personalização para diferentes níveis de gestão educacional”.

Desenvolvimento de Lideranças

A questão da liderança educacional foi central nas discussões. Awasthi defendeu que “para qualquer mudança se consolidar e se sustentar, é a liderança dos atores dentro do sistema que realmente faz a diferença. Só quando eles se apropriam do processo de melhoria e começam a assumir o papel de liderar essa melhoria, é que a mudança realmente se mantém”.

Outro ponto de aprendizado mútuo foi a gestão escolar. Na Índia, muitas escolas (são um milhão e meio) não tem a figura do diretor. Através das trocas do Bridges to Change, as organizações indianas puderam ver a importância dessas figuras de liderança, como direção e coordenação pedagógica para fomentar uma educação de qualidade. 

Impacto em Escala

Para Awasthi, a escala continental dos dois países exige uma abordagem específica. “No contexto de nossos dois países, seja na Índia ou no Brasil, a escala é enorme. Estamos lidando com contextos diversos, com muitas diferenças culturais. E a constatação é que, para realmente gerar impacto em larga escala, nenhuma organização sozinha consegue fazer isso”.

A estratégia da ShikshaLokam de trabalhar com mais de 150 organizações parceiras exemplifica essa filosofia de co-criação. Quando se cocria com parceiros, a solução que surge é criada por todos. 

Avanço da Aprendizagem

As experiências de ambos os países na alfabetização foram amplamente compartilhadas. Karate destaca os aprendizados mútuos. “Às vezes, sinto que o Brasil está um pouco à frente. Então, poderíamos aprender bastante com a forma como o país conseguiu avançar em direção à marca de 50% de crianças alfabetizadas no tempo correto, enquanto a Índia está apenas ultrapassando a marca de 30%”.


Construindo pontes para o futuro


O terceiro dia do evento foi aberto ao público, permitindo que especialistas, organizações da sociedade civil e representantes do governo brasileiro participassem das discussões e dos principais insights dos dias anteriores.

Para Karate, o evento representa o início de algo maior. “O primeiro estágio que eu visualizo é que precisamos construir sistemas nos quais estejamos constantemente criando canais para discussões mais profundas e discussões de compartilhamento de conhecimento, em que possamos destacar o que está funcionando, mas, ao mesmo tempo, dedicar mais tempo a entender e destrinchar o que não está funcionando”.

Awasthi vê uma oportunidade histórica para liderança no Sul Global. “A Índia e o Brasil são dois dos maiores sistemas educacionais do mundo. E, até agora, muitos dos nossos aprendizados, pelo menos na Índia, sempre vieram do Norte Global”. Para ela, “Há muito mais possibilidades se começarmos a aprender entre esses dois países, Índia e Brasil, e também com outros países do Sul Global”.

Como concluiu Mizne, “se a gente garantir que toda criança brasileira e indiana consiga atingir o seu potencial, vai ser um mundo muito diferente”. O Bridges to Change representa não apenas um evento, mas o começo de uma parceria estratégica de longo prazo que pode se estender a outros países de renda média com desafios de escala continental.

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