Caravana da Educação em Singapura
Lemann Fellows e Talentos da Educação foram até o país número 1 no PISA para conhecer suas políticas públicas educacionais
O que faz um país alcançar a primeira posição no PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes)? Que políticas educacionais colaboram para esse resultado? Essas foram algumas das perguntas que 19 Lemann Fellows, Talentos da Educação e parceiros da Fundação Lemann tentaram responder durante uma caravana para Singapura. Entre eles, professores, gestores públicos e empreendedores de diversas partes do Brasil.
A ideia da viagem partiu da nossa Talento da Educação, Carolina Campos. Depois de sair da Secretaria Municipal de Educação de Gravatá (PE), pela primeira vez, em muitos anos teve tempo para pensar no seu projeto dos sonhos: fundar um instituto de formação de professores e profissionais da educação no Brasil.
Começou a estruturar um projeto e decidiu que precisava conhecer algum país que já tinha experiência nessa área. Descobriu que Singapura era um bom exemplo com uma instituição dedicada à formação continuada de professores.
Carolina decidiu escrever o projeto em um edital da rede de líderes da Fundação Lemann e, para garantir que a viagem causasse o maior impacto possível, se comprometeu a levar uma comitiva junto com ela. O projeto foi aprovado no fim de outubro e, em cerca de dois meses, ela organizou toda a agenda.
Do dia 28 de janeiro ao dia 1º de fevereiro, os educadores conheceram as instituições de formação de professores, escolas públicas, startups e órgãos do governo.
Apesar da diferença de realidade entre os dois países - Singapura tem 5,4 milhões de habitantes e é trinta vezes menor que Sergipe, o menor estado do Brasil – o grupo teve a oportunidade de observar boas práticas do país asiático e voltar para casa com muita inspiração na bagagem para aplicar em seus contextos.
Valorização da formação e da prática
Três características do sistema educacional de Singapura chamaram a atenção da nossa caravana. A primeira foi a valorização da formação dos professores, tanto a inicial quanto a continuada. O Ministério da Educação é o responsável por selecionar os futuros professores, considerando tanto habilidades técnicas quanto sua paixão por ensinar. Uma vez aprovados para essa carreira, vão estudar no National Institute of Education, a única instituição que forma professores no país.
Ao longo dos anos, eles frequentam a Academy for Singapore Teachers (AST) para realizar as formações continuadas. De acordo com a diretora executiva da academia, os pais colocam a responsabilidade de cuidado das crianças nas mãos dos professores, que devem ser bem treinados ao longo da sua carreira.
Durante o ano, cada professor deve ter completado um total de 100 horas de formação continuada. A preocupação com a formação dos professores é representada pelo investimento: um terço de todo o orçamento do Ministério da Educação de Singapura é destinado para essa finalidade.
“Entrar na Academy for Singapore Teachers foi visualizar a materialização do que sempre sonhei para o Brasil em termos de formação continuada”, afirma Carolina Campos, Talento da Educação
A segunda característica importante é o diálogo entre teoria e prática nas formações com um foco muito grande no que de fato acontece em sala de aula. “A prática é sempre discutida e é o centro das formações. A teoria existe para somar ao que o professor vive em sala”, afirma Carla Amrein, Talento da Educação e, hoje, coordenadora pedagógica na Eleva.
Há também a figura dos professores mentores, que auxiliam os menos experientes e dão orientações. Além disso, o sistema garante que bons professores continuem lecionando, em vez de serem promovidos a cargos administrativos.
“Um professor bom no Brasil vai para a diretoria ou secretaria, ou seja, sai da sala de aula. Lá eles têm uma carreira. O bom professor cresce e continua na sala de aula”, Isadora Caiuby, coordenadora de projetos na Fundação Lemann.
Por fim, um terceiro aspecto que surpreendeu o grupo foi a sintonia entre todas as instituições. Há uma diretriz sobre qual direção seguir, tanto para a formação dos alunos quanto para a formação dos professores.
“Eles têm uma unidade no discurso em relação a educação. Visitamos escolas, universidades e institutos de formação e todas as instituições estão alinhadas no discurso e na prática. Até os slides eram os mesmos”, conta Darkson Vieira, professor de línguas e consultor de escolas e secretarias municipais.
Ser bom não é ser perfeito
Mesmo sendo referência para outros países, Singapura não perfeita. Ao visitar as instituições, os educadores notaram que, especialmente nas salas de aula, há desafios e dificuldades como em qualquer outro país.
“Criança é criança em qualquer lugar do mundo”, resume Carolina. Atualmente, o país também enfrenta uma discussão com os pais dos alunos. O governo quer reforçar as habilidades socioemocionais, além de adiar um teste que hoje os alunos fazem aos 11 anos e que define que tipo de ensino médio cursarão.
Porém, há resistência de alguns adultos que enxergam o movimento como um possível enfraquecimento da disciplina e do modelo que consideram eficiente.
Líderes em sintonia
A viagem também foi uma oportunidade de convivência entre nossa rede de líderes. Apesar de fazer parte do mesmo grupo, no Brasil não é possível se encontrar com tanta frequência e o contato é quase sempre virtual. A caravana proporcionou uma interação maior entre os profissionais e permitiu a troca de reflexões e ideias sobre a educação como um todo.
“Para mim foi muito bom conviver com a rede. Alguns eu só conhecia de nome e durante a viagem houve uma aproximação muito grande. Conversamos muito e conheci mais sobre o trabalho de muita gente”, afirma Darkson.
“Foram vários dias juntos, longe da família, em um país totalmente diferente. Isso deixa as pessoas mais vulneráveis, mais dispostas a se abrir, o que gerou uma oportunidade muito legal de troca, de conversas profundas sobre a vida de cada um e os desafios”, diz Carla.
Com os pés já no Brasil, os professores estão com muita energia e um desejo de transformação para o Brasil. O objetivo de cada um agora é poder adaptar para a nossa realidade as melhores lições que aprenderam do outro lado do mundo.
“Os feedbacks foram os melhores possíveis e de vidas realmente transformadas. Muita gente está saindo na imprensa e dando palestra depois da viagem”, conta Carolina.