Conteudo Cabeçalho Rodape
8 dezembro 2021 | 00h00

Conheça projeto fotográfico antirracista

“Queremos que as pessoas olhem as diferenças e as achem lindas”, ressalta a coordenadora Janaína Barros

“Sempre tive desafios e enfrentamentos da escola como demanda central e inspiração na construção de projetos”, declara a coordenadora Janaína Barros. Foto: Documentário "Prova Escrita"

Por quais características a sua escola é reconhecida? Janaína Barros, coordenadora pedagógica de uma escola em Seabra/BA, no coração da Chapada Diamantina e coordenadora de núcleo da Rede Conectando Saberes, atua em prol da inclusão, da diversidade e da luta antirracista. Motivos nobres para renovar as esperanças e trabalhar duro em ações complexas e desafiadoras, como o projeto fotográfico Raiz e Flor.

Segundo a coordenadora, a ideia desta iniciativa surgiu quando percebeu em conjunto aos professores que a escola deveria ser um lugar capaz de acolher a diversidade e colaborar com a identidade de seus alunos, principalmente, vindos de áreas rurais, comunidades quilombolas e LGBTQIA+. 

“O público que consideramos minoria, na verdade é maioria no Brasil”, ressalta, “e a diferença entre a raiz e a flor é o tempo. Todos somos diferentes, mas aceitar e deixar esta diferença florescer passa pelo tempo que pode trazer felicidade e a ‘não felicidade’. Quando o tempo passa de forma feliz, aquilo me faz florescer! Se no espaço que estou alguma coisa for negada, posso não virar flor”, destaca sobre a importância de ofertar um espaço de aceitação e identificação para os estudantes.

REPRESENTATIVIDADE NOS CORREDORES

O projeto Raiz e Flor nasceu neste ano após a escola ser beneficiada com uma reforma, chegou-se a conclusão que seria interessante construir ambientes para valorizar a diversidade fazendo uso de fotografias e do material mais precioso que possuem: os alunos com suas diferentes belezas e estilos

A professora Tereza Abade, de língua portuguesa, aceitou adicionar ao seu trabalho de Projeto de Vida a discussão sobre raça e gênero, coletou informações e também serviu de ponte para um outro diagnóstico importante, a autoestima destes estudantes. 

“Os alunos acabaram falando sobre as redes sociais e que deixam de postar fotos por conta por não se sentirem bonitos, se sentirem diferentes e com dificuldade de fazerem amigos”, revela a coordenadora. A solução? Usar a fotografia como forma de eles se orgulharem de quem são, de suas histórias, cabelos, tranças, olhares e jeitos de vestir

Com a qualidade das fotos e filmes produzidos pelos alunos, as educadoras resolveram ir além das turmas trabalhadas e tornar um projeto institucional. “Começamos a frequentar corredores para convidar mais alunos para serem fotografados”, conta orgulhosa.

Logo a equipe ganhou reforços quando um fotógrafo e uma maquiadora da cidade toparam participar da jornada. “A fotografia surge aqui para acolher, construir identidade, construir ambientes que salientem as diferenças e lembrem que fazemos parte do mesmo lugar, que essa escola é marcada pela diferença”, frisa.

O projeto já está acontecendo nas aulas da professora Tereza e por enquanto, as educadoras aguardam recursos para realizar a revelação no tamanho 40x60, além de valores para molduras e vidros, a fim de que estas imagem durem vários anos expostas nos ambientes do colégio.

Ainda em 2021, Janaína pretende finalizar a seleção de frases, as postagens no instagram, as discussões com materiais de leitura e o estudo de dados sobre negritude no Brasil. “Agora estamos dando prioridade neste momento para alunos da zona rural, negros e gays, do primeiro e segundo ano”, lembra.

Para a coordenadora, nenhum resultado será concreto se não houver a participação e protagonismo dos estudantes. “Em 2022, queremos ampliar as ações, colocando as fotos em camisetas para que o projeto possa se sustentar. Também queremos uma boa câmera e formar nossos próprios fotógrafos na escola. Assim, em conjunto com o grêmio, pensamos em comercializar estas fotos e camisetas para dar protagonismo ao estudantes”, revela Janaína, “também buscamos apoio de uma rede de maquiagem negra para promover oficinas para nossas alunas interessadas. Tudo para que nossos alunos possam florescer”. 

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COMO TUDO COMEÇOU

Era uma vez, uma coordenadora pedagógica do interior da Bahia que atuava na maior escola estadual de sua cidade com mais de mil alunos matriculados no ensino médio, o Colégio Estadual de Seabra. Curiosa e sempre atenta aos dados, Janaína Barros percebeu que mesmo a população sendo em grande parte negra, não era este o perfil mais frequente nas suas salas de aulas e resolveu investigar por quais motivos.

Observando o entorno, descobriu que - há poucas quadras dali - uma escola menor  apresentava um percentual bem maior de alunos das comunidades quilombolas e o motivo parecia evidente: identificação. “A coordenadora da outra escola me disse que os alunos procuravam o local, porque se identificavam, se sentiam parte! Na hora brinquei que faria da minha escola de maioria branca, uma escola que também pudesse ser procurada por alunos de áreas rurais e comunidades quilombolas”, recorda.

Apesar de parecer uma tarefa fácil, Janaína sabia que este fato era mais complexo do que imaginava e aprofundou sua pesquisa mapeando a quantidade de alunos negros, de quais lugares vinham, qual número de reprovações, evações e infrequencias. Com estes índices nas mãos, começou uma batalha a favor da inclusão com ações criativas para que os estudantes se sentissem acolhidos, seguros e orgulhosos de suas histórias

DIFERENTES ESTRATÉGIAS

Em 2019, os esforços de Janaína para reduzir a evasão e tornar o ambiente escolar mais acolhedor para os estudantes já havia ultrapassado os muros e se transformou no documentário “Prova Escrita”, vencedor do 10º Doc Futura. No filme, a coordenadora pedagógica conta como passou a observar os desenhos e rabiscos nas paredes, carteiras e portas de escolas para compreender o déficit de aprendizagem, desigualdade e dificuldades emocionais da vida dos estudantes. 

O documentário exibido no Canal Futura e atualmente no Globo Play, conquistou o segundo lugar no New York Festivals World’s Best TV & Films 2021, na categoria Documentary – Social Issues.

Trabalhar a inclusão nas escolas é garantir um espaço saudável em que os estudantes em suas diferenças se sintam parte. Às vezes, a escola é um espaço de adoecimento. Queremos transformá-la! Queremos marcar o tempo destes alunos no ensino médio com um espaço mais acolhedor e assim, todo e qualquer estudante poderá florescer com expectativas de vida mais promissoras”, conclui. 

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