Debater a BNCC do Ensino Médio é uma oportunidade de mudança
Participamos da discussão da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio na 1ª Audiência Pública realizada pelo Conselho Nacional de Educação
Leia nossa fala feita durante a 1ª Audiência Pública da Base Nacional Comum Curricular do Ensino Médio em Florianópolis
"Bom dia a todas e a todos! Falo em nome da Fundação Lemann, organização não-governamental que atua há 15 anos, em todo o Brasil, em prol da educação básica pública, de qualidade e para todos.
A Fundação também faz parte do Movimento Pela Base, grupo de mais de 60 professores, gestores e especialistas em educação, atuando desde 2013 a favor da criação de uma Base Nacional Comum de alta qualidade, sempre em diálogo com educadores de todo país.
Para nós, essa discussão da parte do Ensino Médio oferece uma grande oportunidade de mudança, necessária para superar a baixa aprendizagem e a alta evasão desta etapa. Nunca acreditamos que a mobilização e a construção da BNCC seriam, por si só, suficientes para que nossas crianças se tornassem adultos mais capazes, mais conscientes e mais responsáveis. A Base sozinha não garante isso: temos altas expectativas, sim, de que ela ajuda e permite mais um momento de reorganização do nosso sistema educacional.
Sempre importante frisar: a Base não é currículo. Ela precisará ser aprofundada e complementada nos currículos locais, a serem desenvolvidos pelas redes e pelas escolas, como já está acontecendo para a educação infantil e fundamental.
No documento em discussão do Ensino Médio vemos características positivas:
Enxuto, abre espaço para as redes interpretarem e contextualizarem com saberes locais.
Foca no desenvolvimento integral do aluno. As 10 competências gerais da BNCC (como empatia, pensamento crítico e criativo, cidadania e resiliência), já muito importantes na parte de EI e EF, ganharam ainda mais destaque.
Induz a interdisciplinaridade. A organização em áreas de conhecimento ao invés de disciplinas não significa que o conhecimento disciplinar sumiu. Significa mais flexibilidade na organização dos projetos por problemas. Por exemplo, para o problema de mudanças climáticas é preciso dar conta de elementos de física, química, biologia, geografia, história, sociologia, política e cidadania.
Essa versão também avança na promessa de oferecer aos jovens o protagonismo na sua trajetória curricular. Não há país no mundo com bons índices de aprendizagem e de conclusão da Educação Básica que não ofereça aos jovens alguma escolha de percurso. Cabe a vocês, Conselheiros, garantir que haja ganhos de qualidade e de direitos com essa mudança, evitando desigualdades pela diferenciação.
Pois ao definir direitos nacionais, a Base também aponta a necessidade de dar mais apoio a escolas em situações mais precárias, para elas também garantirem as aprendizagens dos seus estudantes. Por isso, as nossas maiores preocupações com o Ensino Médio na Base, alinhada à reforma desse nível de ensino, também são com a qualidade e equidade.
E por ser muito mais flexíveis, há um grande desafio na implementação. Para criar seus currículos, as redes precisarão de recursos, tempo e muito diálogo com seus professores e jovens para entender suas necessidades e desejos. Para cumprir a promessa de uma verdadeira escolha para o jovem, especialmente fora das grandes cidades, as redes precisarão de novos modelos de oferta, usando tecnologia e parcerias com outras escolas e instituições de ensino.
Por fim, os professores, que conhecem as necessidades de seus alunos mais do que qualquer um, eles precisam e exigirão formação de qualidade para poderem implementar este documento ambicioso. Por isso, desde já, o tempo e o investimento necessários para esta formação precisam ser previstos no cronograma que o MEC e o Consed, junto ao CNE, devem desenvolver.
Obrigado."