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16 agosto 2023 | 00h00

Do projeto Aquilomba ao Encontro Anual: conexões para transformar o Brasil

Por Cosme Bispo 


Apoiar pessoas que trabalham com temas de interesse público para o Brasil e fazer isso de forma que elas estejam conectadas. Se os dois objetivos formam a essência da Rede de Líderes desde sua origem, nesta semana ganham mais ênfase: hoje, a Fundação Lemann organiza a primeira edição do Aquilomba e, na sexta-feira, abre o Encontro Anual da Rede de Líderes, que se estende por todo o fim de semana em São Paulo, com a presença de diferentes perfis de lideranças. São dois eventos criados para fortalecer trajetórias profissionais de impacto social dentro de uma lógica de grupo – neste caso, um grupo que se conecta pelo interesse em transformar o país e construir um futuro mais justo e igualitário.

Formada por cerca de 700 pessoas espalhadas pelo Brasil e em outros países, a Rede de Líderes apoia brasileiros em posições de liderança para que sigam nessa trajetória, mas não só: queremos que cada vez mais pessoas negras ascendam para esses espaços. Numa sociedade fincada no racismo estrutural e marcada pela desigualdade, sabemos que pessoas negras enfrentam desafios mais complexos e, não por acaso, há demandas específicas trazidas pela população negra do nosso grupo, que hoje representa 30% da Rede de Líderes. Se os desafios são únicos, também é única a fortaleza que as pessoas negras criam entre si. O Aquilomba nasce com essa premissa. 

Hoje à noite, a iniciativa vai reunir membros negros da Rede num encontro com Siyabulela Mandela, ativista e bisneto do ex-presidente da África do Sul Nelson Mandela. Trata-se da primeira de uma série de ações que se estenderão entre setembro e janeiro de 2024. O Aquilomba parte do entendimento de que não só precisamos de soluções que sejam customizadas para pessoas negras, como também entendemos que isso precisa passar por uma lógica de pertencimento a nós mesmos. E, por isso, vamos falar sobre quilombo, sobre senso  colaboração e de grupo, algo que está muito permeado pela cosmovisão africana e indígena. Ao contrário da lógica do Norte Global, marcada pela imagem do “self-made man”, viver em comunidade faz parte de um racional pautado nas relações postas pelo Sul Global. 

Aberto a todos os membros da Rede, o Encontro Anual que começa nesta sexta é um espaço de confirmação dessa crença na atuação em rede. Madiba, como é conhecido o bisneto de Mandela, também participa do evento. No sábado, ele estará ao lado de   Shaharzad kbar, militante afegã e diretora-executiva da ONG Rawadari, do Afeganistão, no debate “Construindo   Pontes:   Diálogos   sobre   Ativismo   e Transformação Social”. O diálogo será mediado por Midiã Noelle,  fundadora da Commbne e diretora política do PerifaConnection.

Construir pontes, como indica o título do debate, é um aspecto central do encontro. Em 2021, com o tema  “Brasil 2032: Recodificando o Amanhã”, falamos sobre o futuro, a visão a longo prazo para o país. Já em 2022, com o mote “O Brasil com a Potência da Nossa Gente”, fizemos um debate profundo sobre a necessidade de que a engrenagem do país esteja comprometida com o desenvolvimento das pessoas. Agora, depois de passarmos pelo sonho e pela potência individual, fincamos os pés na essência da Rede de Líderes: a “Nossa Conexão Transforma o Brasil”.

Há conversas sobre promoção de mobilidade social, os impactos da transformação digital, o papel das pessoas brancas na luta antirracista. Parece detalhe, mas não é: boa parte dos títulos dos encontros começa com a expressão “conectar para…” – com complementos  como “contratar”, “investir”, “estudar”. A repetição é intencional: estamos conectados para superar desigualdades, para pensar em estratégias de recomposição de aprendizagem, para discutir políticas públicas. 

Os debates reverberam a pluralidade de interesses das lideranças, refletem a gama de desafios que temos pela frente e, sobretudo, conectam pessoas qualificadas e de trabalhos excepcionais voltados para um país mais justo, avançado e com mais oportunidades para todos. Não é pouco, mas essa transformação só será possível pela conexão e, portanto, pela colaboração entre as pessoas.

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