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20 março 2025 | 00h00

Fluência leitora: ler bem significa compreender

Avaliação contínua ajuda a identificar desafios no aprendizado, orientar políticas públicas e melhorar a alfabetização infantil no Brasil

A alfabetização é um dos pilares fundamentais da educação e a fluência leitora ocupa um papel central nesta etapa. Quando um aluno consegue ler palavras com facilidade e naturalidade, sem precisar se concentrar na decodificação, ele pode dedicar mais atenção à compreensão do conteúdo. Ou seja, não é apenas sobre ler rápido, mas sobre ler bem para entender e interpretar textos. Isso contribui na formação de cidadãos mais conscientes e críticos. 

A fluência leitora envolve três componentes principais: precisão na leitura, velocidade adequada e expressividade (prosódia). A avaliação contínua da fluência leitora permite que professores identifiquem rapidamente dificuldades individuais dos alunos e ajustem suas estratégias pedagógicas desde a alfabetização. 

Entre os principais benefícios desta abordagem estão:

  • A identificação precoce de dificuldades; 

  • Planejamento de ensino com base nos dados da fluência para oferecer intervenções direcionadas para cada aluno;
  • Monitoramento do progresso e maior engajamento;

  • Motivação e autoconfiança dos estudantes.


A importância da fluência desde a alfabetização

A avaliação da fluência leitora tem se consolidado como uma ferramenta pedagógica importante para professores e gestores educacionais, com programas que incluem medições da leitura oral dos estudantes para entender seu nível de fluência. O Indicador Criança Alfabetizada, lançado em 2024 pelo MEC (Ministério da Educação), é um instrumento de monitoramento que permite acompanhar, ano a ano, o avanço na alfabetização das crianças matriculadas no 2º ano do ensino fundamental no contexto do Compromisso Nacional Criança Alfabetizada até 2030. O indicador é calculado com base nos resultados das avaliações da alfabetização, conduzidas pelos sistemas estaduais em organização complementar ao Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb).

Outros países também incorporaram a avaliação da fluência leitora como estratégia para impulsionar o aprendizado. Nos Estados Unidos,3 o DIBELS (Dynamic Indicators of Basic Early Literacy Skills) mede a fluência com base no número de palavras corretamente lidas por minuto. No Chile, o programa "Se Lê" realiza avaliações regulares para garantir que os alunos desenvolvam um nível adequado de fluência antes de avançar no currículo escolar. Já na Finlândia, reconhecida por sua excelência educacional, a leitura é incentivada desde os primeiros anos, com acompanhamento frequente da evolução dos estudantes.

Índices nacionais

Dados de avaliações nacionais revelam que muitos alunos brasileiros concluem os primeiros anos do Ensino Fundamental sem desenvolver uma fluência leitora adequada, comprometendo seu desempenho acadêmico futuro. Por isso que melhorar o desempenho em leitura e escrita deve ser prioridade, assim como enfrentar desigualdades socioeconômicas e regionais na educação. 


O Brasil tem avançado na alfabetização infantil, mas ainda enfrenta desafios significativos. Em 2023, 56% das crianças brasileiras atingiram o nível de alfabetização esperado para o 2º ano do ensino fundamental, conforme o Indicador Criança Alfabetizada, desenvolvido pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep). Este índice representa uma recuperação de 20 pontos percentuais em relação aos resultados do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb) de 2021, que havia registrado 36% de crianças alfabetizadas. No entanto, os dados também indicam que 44% dos alunos não sabem ler ao final dos primeiros anos do Ensino Fundamental. 

Os resultados destacam a importância de políticas públicas focadas na alfabetização, visando a garantir que todos os estudantes desenvolvam as habilidades necessárias para um aprendizado eficaz ao longo de sua trajetória escolar. Diante disso, o Programa Tempo de Aprender, do Ministério da Educação, tem como propósito melhorar a qualidade da alfabetização em todas as escolas públicas do país. A iniciativa já tem mais de 5 mil adesões e mais de 200 mil professores formados.

Redes estaduais e municipais pelo país também têm adotado metodologias semelhantes para monitorar o desenvolvimento dos estudantes. Em São Paulo, por exemplo, o número de crianças leitoras no 2º ano do Ensino Fundamental aumentou em 30% de 2023 para 2024, passando de 220,8 mil para 286,6 mil alunos, graças à adoção de medidas de melhorias após o diagnóstico prévio, que apontou defasagem na aprendizagem.

Expandir e fortalecer as avaliações de fluência leitora é um passo essencial para garantir que todos os estudantes tenham acesso a uma educação de qualidade e consigam desenvolver plenamente sua alfabetização e habilidades de leitura.

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