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1 junho 2023 | 00h00

Fluência leitora, uma ferramenta para o avanço da alfabetização

Aprender a ler e escrever é um processo sofisticado e complexo. A alfabetização é composta por múltiplos domínios: a escrita, a leitura, a oralidade e a compreensão de texto. Dessa maneira, devem ser múltiplas também as ferramentas de avaliação para a capturar o aprendizado em cada uma dessas dimensões. Não é razoável atribuir a uma única ferramenta avaliativa, seja ela qual for, esta tarefa. Ao invés disso, mais efetivo será contar com um portfólio de avaliações, onde, cada uma, a seu modo, com sua finalidade e foco, seja capaz de gerar informações sobre o que os alunos sabem ou não sabem fazer nesta etapa da escolarização.

A avaliação de fluência leitora é uma destas ferramentas. Ela pode ser usada de modo mais abrangente, como por exemplo, avaliação diagnóstica e somativa, para gerar informação sobre o nível de leitura de um grande número de alunos (orientando, de modo geral, políticas públicas) ou formativa - de modo a apoiar o professor a conduzir as melhores estratégias pedagógicas para promover o aprendizado dos seus alunos, cotidianamente. 

A fluência leitora é uma competência central no processo de alfabetização, sendo preditora da compreensão de texto. É uníssono entre os especialistas que a fluência em leitura é um dos elementos que concorre para compreensão e não um elemento que sozinho garante a compreensão. Dezenas de países medem, de maneiras diferentes, a fluência leitora de seus estudantes - cerca de 40 nações utilizam, por exemplo, o EGRA, para esta avaliação. Nos Estados Unidos, a organização sem fins lucrativos NWEA aplica o Map Reading Fluency em muitos distritos escolares, e uma avaliação amostral de fluência leitora de caráter nacional foi realizada em 2018 pelo NAEP, a autoridade nacional de avaliação. No Brasil, 16 estados, em parceria com seus municípios, aplicam a avaliação de fluência leitora - 9 deles, em 3 modalidades: diagnóstica, formativa e somativa. Além disso, outros 47 municípios aplicam a avaliação de fluência leitora formativa bimestralmente. Sobral, referência nacional, avalia a fluência de seus estudantes há mais de uma década.

Por que avaliar a fluência leitora?

Uma leitura adequada requer que os leitores processem o texto (seus elementos superficiais) e o compreendam (os sentidos profundos). A fluência em leitura refere-se à capacidade de o leitor desenvolver controle sobre o processamento do texto no nível dos elementos superficiais de modo a manter seu foco no entendimento dos sentidos profundos que são incorporados ao texto no ato da leitura. A fluência em leitura é composta por três dimensões, que constroem a ponte para a compreensão: precisão, automaticidade e prosódia. Um leitor fluente sobrecarrega menos seu aparato cognitivo no momento de decodificar o que lê, de modo que consegue compreender melhor aquilo que foi lido, liberando espaço para realizar as inferências necessárias ao processo leitor. 

Há forte correlação entre fluência e compreensão leitora. Evidências mostram que, em anos iniciais do ensino fundamental,  leitores fluentes se posicionam nas escalas mais elevadas das medidas de compreensão (CAMPOS, no prelo;  REZENDE et al, 2020). Abadzi (2011) demonstra que as evidências de diversos estudos internacionais comprovam a correlação entre fluência leitora e compreensão, em diferentes contextos e línguas. De acordo com o RTI International, organização responsável pelo EGRA, 

Fluência (leitura de parágrafos) com Compreensão A fluência na leitura oral é uma medida da competência geral de leitura: a capacidade de traduzir letras em sons, unificar sons em palavras, processar conexões, relacionar texto com significado, e fazer inferências para preencher informações em falta (Hasbrouck & Tindal, 2006). À medida que os leitores qualificados traduzem o texto para a linguagem falada, eles combinam essas tarefas de uma maneira aparentemente sem esforço (automaticidade); porque a fluência da leitura oral captura esse processo complexo, ela pode ser usada para caracterizar a habilidade geral de leitura. Testes de fluência de leitura oral, medidos por avaliações cronometradas de palavras corretas por minuto, mostraram ter uma forte correlação com avaliações mais complexas, por exemplo, uma correlação de 0,91 com o subteste de Compreensão de Leitura do Teste de Realização de Stanford (Fuchs et al., 2001). Desempenho ruim em uma ferramenta de compreensão de leitura sugere que o aluno teve problemas com decodificação, com leitura fluente o suficiente para compreender ou com vocabulário.

São muito bem vindos - na realidade, necessários - modelos inovadores de avaliação de leitura - sejam eles novas metodologias - capazes de cobrir um conjunto mais amplo de competências, sejam eles automatizados, com uso de tecnologia para reduzir o tempo, o custo e elevar a precisão das avaliações atuais, sejam eles protocolos simplificados para o uso formativo. O senso de urgência em relação à alfabetização deve mover todos na direção de encontrar as soluções mais efetivas, sempre.

Referências para leitura e reflexões

EGRA: 

https://earlygradereadingbarometer.org/resources/subtasks

https://earlygradereadingbarometer.org/ 

Phonics check UK:

https://www.gov.uk/government/publications/phonics-screening-check-2022-materials

National reading panel: 

https://www.nichd.nih.gov/sites/default/files/publications/pubs/nrp/Documents/report.pdf

(pg 192-193) The results of this study indicate that teachers should assess fluency regularly. Both informal as well as standardized assessments of oral reading accuracy, rate and comprehension are available and referenced in the full report. 

MAP Reading Fluency Technical Report:

https://www.nwea.org/uploads/2021/06/English-MAP-Reading-Fluency-Technical-Report-2022-08-30-1.pdf

2018 NAEP Oral Reading Fluency Study:

https://nces.ed.gov/nationsreportcard/studies/orf/

Helen Abadzi (2011) - Reading Fluency Measurements in EFA FTI Partner Countries: Outcomes and Improvement Prospects

https://rc.library.uta.edu/uta-ir/bitstream/handle/10106/24339/reading%20fluency.pdf?sequence=1

Rasinski, T. V. (2006). A brief history of reading fluency. Em S. J. Samuels & A. E. Farstrup (Eds). What research has to say about fluency instruction. (pp. 4-23). Newark: International Reading Association.

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