O papel estratégico das lideranças públicas para os eleitos e para a democracia
Períodos eleitorais são comumente lembrados como momentos de renovação e oportunidades para o futuro do país. A escolha pelo voto livre e direto é a mais alta manifestação da democracia e, ao mesmo tempo, a troca de governos e suas equipes que passarão a trabalhar pelo bem público nos próximos quatro anos parece nos lembrar que temos mais uma chance de fazer melhor na busca por uma sociedade mais justa e equânime.
As eleições democráticas também deveriam ser uma oportunidade para colocar em evidência a importância da gestão pública na execução dos planos de governo e do fortalecimento da democracia. Falo mais especificamente do desenvolvimento e da gestão de pessoas em cargos públicos de liderança, em todas as esferas, de segundo e terceiro escalão.
A atuação dessas lideranças impacta em maior medida a vida de todos os cidadãos. Elas são as responsáveis, diariamente, por tomadas de decisão sobre processos, orçamentos e ações do Poder Executivo que afetam, por exemplo, a condução de políticas públicas. São pessoas que imprimem, por meio de suas competências, a qualidade dos serviços públicos prestados à população. Que concretizam, enfim, os planos de qualquer que seja o governo eleito, dando vida ao conceito de democracia e respeitando, prioritariamente, o espírito público e o interesse comum.
Estamos falando de cerca de 12 mil cargos, posições de liderança nos governos estaduais e federal, cuja atuação exerce alto impacto na vida de todos nós. Quem são essas pessoas e quais competências elas dominam e têm a oportunidade de desenvolver em suas trajetórias? Quais critérios são usados para selecioná-las? A população brasileira tem a sua percepção sobre o tema. Quase 78% concordam que pessoas bem preparadas que ocupam cargos importantes de governo produzem impacto positivo em suas vidas. Por outro lado, apenas 8% acreditam que os cargos de chefia são ocupados pelos mais competentes, de acordo com pesquisa Datafolha de 2022. E apenas 27% dos brasileiros dizem confiar no governo, segundo o Latinobarômetro divulgado em 2020.
A formação dessas lideranças públicas, com assertividade sobre quais as competências mais adequadas para exercer seu papel, e os critérios de seleção, desenvolvimento e reconhecimento dessas trajetórias são alguns dos aspectos que podem fazer muita diferença na qualidade dos serviços e políticas prestados. Por isso mesmo, podem também orientar o desenvolvimento de uma necessária política nacional de gestão de lideranças. Um levantamento da OCDE mostra que quanto maior a eficiência do setor público de um país, mais claras são suas políticas de seleção de pessoas.
Entender e criar processos de seleção e desenvolvimento de competências é, sobretudo, uma forma de valorizar esses profissionais e um estímulo para que se mantenham na trajetória que escolheram, contribuindo para a melhoria da vida da população. Isso pode gerar, inclusive, menor rotatividade e mais continuidade nos cargos e atuações de liderança.
Dentro desta discussão, o Movimento Pessoas à Frente elaborou um documento com diretrizes para a construção de uma política pública nacional, que olhe para seleção, gestão do desempenho e investimento no desenvolvimento de pessoas, além de atentar para a representatividade dos cargos de liderança. Um corpo diretivo mais diverso pode ajudar a garantir que o impacto positivo de suas ações e decisões alcancem as diferentes demandas e realidades da população brasileira e colabore para a diminuição das desigualdades sociais, raciais e de gênero.
Há algumas iniciativas interessantes de políticas para lideranças públicas acontecendo em estados brasileiros, como Minas Gerais, Ceará, Rio Grande do Sul e Sergipe. Diversos municípios também passaram a adotar medidas nesse sentido, inspirados pelos resultados que têm sido colhidos nos governos estaduais. Não deveríamos perder a oportunidade, com o momento de renovação de governos, de incluir o tema da gestão de lideranças públicas nos debates e investir para que possamos avançar ainda mais.
Não há manutenção da democracia ou esperanças renovadas em ano de eleição sem investir nas pessoas por trás da máquina pública. O foco deve estar nas pessoas como os grandes vetores de transformação e avanços para toda a sociedade, podendo esta, assim, se tornar mais justa, desenvolvida e igualitária.
Clarissa Malinverni, Gerente de Projetos em Políticas de Gestão de Lideranças no Setor Público