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8 março 2023 | 00h00

Para famílias, educação deve ser prioridade dos novos governos

Segundo pesquisa do Datafolha, tema é prioridade para 78% dos familiares de estudantes, saúde e segurança vem em segundo e terceiro lugar

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    Para pais e responsáveis, os focos das políticas de educação devem ser a formação de professores, a oferta de tecnologia e os programas de reforço escolar
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    Pesquisa avalia o primeiro ano de retorno presencial das aulas na visão das famílias e foi encomendada por Fundação Lemann, Itaú Social e BID;
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    Segundo pais e responsáveis, 40% dos alunos de escolas públicas estão com dificuldades de avançar no processo de alfabetização;
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    Escolas oferecem mais reforço escolar e apoio psicológico aos estudantes do que no início da pandemia, mas persistem as desigualdades regional e socioeconômica

São Paulo, 8 de março de 2023 – Educação precisa ser prioridade dos novos governos, segundo 78% de pais e responsáveis por estudantes de escolas públicas. O tema ficou à frente de saúde (66%) e segurança pública (21%). É o que mostra a décima edição da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada ao Datafolha por Fundação Lemann, Itaú Social e BID, com apoio da Rede Conhecimento Social. Realizada em dezembro de 2022 com 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes de todas as regiões do país, a pesquisa busca retratar a visão das famílias sobre o primeiro ano de retorno presencial das aulas após a pandemia da Covid 19.

Para melhorar a educação, os entrevistados destacaram que os novos governos devem garantir maior oferta de formação de professores, a ampliação do uso de tecnologia nas escolas e a promoção de programas de reforço e recuperação de estudantes, igualmente com 21% cada. 

A pesquisa também evidencia amplas desigualdades regionais e de renda nas necessidades dos familiares. Por exemplo, a ampliação do uso das tecnologias nas escolas é uma demanda mais presente para os responsáveis por estudantes das regiões Norte (28%), Centro-Oeste (23%) e Nordeste (22%) se comparado às regiões Sudeste e Sul (ambas com 18%). Escolas de índices socioeconômicos mais baixos também aparecem na frente com essa demanda (25%).

Esse dado reforça os resultados de um Estudo da MegaEdu, lançado em abril de 2022, que apontou que o problema de conectividade nas escolas é mais evidente no Norte, onde apenas 63% das unidades de ensino são cobertas com internet, contra 94% tanto no Sudeste quanto no Sul. 

DESAFIOS NA ALFABETIZAÇÃO E NO ENSINO FUNDAMENTAL II

De acordo com os responsáveis ouvidos pelo Datafolha, 6% dos estudantes não estão avançando e 34% estão avançando com dificuldades no processo de alfabetização, somando 40% de estudantes com algum desafio neste processo. Em maio de 2022, esse número era de 45%, e, embora esteja um pouco menor agora, ainda apresenta imenso desafio para o país. 

Também neste caso persistem as desigualdades de renda: em escolas de menor nível socioeconômico, o número de estudantes com problemas no processo de alfabetização chega a 50% (14% não estão avançando no processo e 36% estão avançando com dificuldades). 

“É preocupante a percepção continuada das famílias, reforçada novamente nesta pesquisa, de que suas crianças não estão aprendendo a ler e a escrever como deveriam. Esse resultado deve servir de alerta para a importância da colaboração entre gestores de diferentes níveis de governo para endereçar esse desafio”, comenta Daniel De Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann.

Segundo os pais, 10% dos estudantes de alfabetização estão em nível muito abaixo do esperado em leitura e escrita. Esse número chega a 24% em escolas mais pobres. A boa notícia para os menores é que as avaliações para conhecer as dificuldades dos alunos acontecem principalmente na fase de alfabetização (73%) – contra 58% no Ensino Médio.

Já nos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º ano), o desafio parece ser a ausência de avaliação: 35% dos pais e responsáveis acreditam que o principal problema da escola em relação às perdas de aprendizagem pela Covid-19 ocorre porque a escola não está fazendo o suficiente para avaliar a perda de aprendizado e identificar áreas que os adolescentes precisam de apoio. Ilustra este cenário de ausência de avaliações o fato dos responsáveis acreditarem que os professores conhecem pouco a respeito das dificuldades de aprendizado de quase metade dos alunos (46%), além de perceberem que para 49% dos estudantes há pouco apoio individualizado para aqueles que não estão conseguindo acompanhar as aulas nessa etapa escolar.

REFORÇO ESCOLAR E APOIO PSICOLÓGICO

Segundo as famílias, metade dos estudantes (50%) tiveram oferta de reforço escolar pelas escolas, o maior índice desde maio de 2021 (29%). Essa proporção era de 43% no mesmo período do ano anterior, segundo a série Datafolha. Apesar do aumento progressivo desde o início da pandemia, a proporção de estudantes matriculados em escolas que oferecem reforço escolar revela desigualdades, inclusive entre os ciclos da educação básica: estudantes dos anos iniciais têm maior oferta (56%) do que estudantes dos anos finais (48%), de acordo com  a pesquisa. As diferenças regionais também são alarmantes, já que alunos da região Sul (65%) têm maior oferta do que aqueles da região Norte (35%) e Nordeste (41%). 

A despeito de terem o menor índice de oferta de aulas de reforço, os estudantes do Norte são os que mais frequentam esse tipo de programa. O Datafolha revela que 6 em cada 10 (61%) estudantes que possuem oportunidade de reforço escolar participam da ação na região Norte, número muito superior ao da região Sul (35%). A média do Brasil fica em 42% de participação dos estudantes.

Com relação ao apoio psicológico, atualmente, 44% dos estudantes estudam em escolas que oferecem esse tipo de ação – em setembro de 2021, o índice era de 36%. Entre os estudantes que participaram do apoio psicológico (23%), a percepção é de que eles se sentem mais integrados (98%),  mais felizes no dia-a-dia (97%) e mais envolvidos  com a escola (96%). A oferta de apoio psicológico aos alunos é maior nas regiões Sul (56%) e Centro-oeste (52%), contra 40% na região Norte e 41% nas regiões Nordeste e Sudeste.

Segundo os responsáveis, 14% dos estudantes realizam ações de apoio psicológico fora da escola. Além disso, 65% dos responsáveis indicam que estudantes não atendidos por apoio psicológico fora da escola gostariam que estes contassem com o serviço.

Esse é um tema que merece atenção dos gestores públicos também: entre maio e dezembro de 2022, passou de 33% para 40% o índice de estudantes que, na visão de seus responsáveis, estão precisando de apoio psicológico; e de 34% para 38% a proporção de estudantes com dificuldades para controlar suas emoções, como raiva e frustração. Mais de 60% dos responsáveis acreditam que o principal problema da escola em relação a forma de lidar com as questões de saúde mental dos estudantes é a falta de profissionais qualificados.

“A retomada das aulas presenciais nas redes de ensino foi um marco na vida de crianças e jovens em idade escolar após o período mais crítico da pandemia. Agora, é preciso ter um olhar atento e propor ações ágeis e eficientes para mitigar o alto índice de evasão escolar, a defasagem na aprendizagem e os desafios relacionados à saúde mental que atingem nossos estudantes. Importa ainda que isso seja feito em todo o território nacional, com ações estruturadas de forma conjunta, garantindo a equidade e qualidade, requisitos básicos para a efetivação do direito à educação”, enfatiza Patricia Mota Guedes, superintendente do Itaú Social.

A PESQUISA

A décima edição da pesquisa “Educação na perspectiva dos estudantes e suas famílias”, encomendada ao Datafolha por Itaú Social, Fundação Lemann e BID, com apoio da Rede Conhecimento Social, procura avaliar o primeiro ano de retorno presencial após a pandemia. Realizada em dezembro de 2022, o levantamento também busca elucidar as expectativas para o futuro dos estudantes. Foram entrevistados 1.323 responsáveis por 1.863 estudantes matriculados em escolas públicas entre 6 e 18 anos.

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