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19 setembro 2016 | 00h00

Da visão à ação: esperança e inspiração

“Meu papel não é apenas ser uma boa gestora, comprometida com a ética, é também inspirar os jovens e humanizar a política”

Por Juliana Cardoso


Quando me perguntam sobre o que faço e o caminho que escolhi trilhar, penso sempre em duas palavras e uma delas é ESPERANÇA. Ainda muito nova, percebi a minha vocação em liderar e brigar por aquilo em que acredito. Assim, ao acompanhar a política desde cedo, entendi o impacto que ela pode causar na vida das pessoas, tão logo, pensei que eu mesma deveria fazer algo, carregando a esperança de fazer ao menos a minha comunidade um lugar melhor – então me descobri como política.  


Desde então, direcionei a minha trajetória para seguir esse caminho, focando, acima de tudo, em lapidar a minha capacidade técnica. Assim, me formei em Engenharia Ambiental, fiz pós-graduação em Administração de Empresas e, hoje, sou mestre em Administração Pública na School of International and Public Affairs (SIPA).


A oportunidade de estudar em Columbia foi muito engrandecedora pela estrutura do curso, qualidade dos professores e também pelos meus colegas de turma. Para mim, é uma grande honra fazer parte da primeira turma formada pelo Global Executive Master of Public Administration e o apoio da Rede de Ação Política pela Sustentabilidade (RAPS), Fundação Lemann e Instituto Arapyaú foi fundamental desde a criação do curso, dando suporte para que o mesmo pudesse se viabilizar e vir para o Brasil. Tendo sido criado para profissionais já atuantes na área, o mestrado é realizado em modo híbrido, propiciando a mesma vivência dos alunos que ficam o período completo no campus. Além disso, como resultado dessa brilhante parceria, fui contemplada com uma bolsa de estudos. Esse apoio foi fundamental e serei sempre muito grata pela confiança, dando a todos a certeza de que irei sempre honrá-la.


Hoje, já com mais experiência, sempre penso em uma segunda palavra: INSPIRAÇÃO. Essa palavra me vem à mente porque muitas vezes me senti solitária nesse ramo, que tem poucos jovens e ainda menos mulheres. Penso nela muito mais como uma missão, a de ser porta-voz e cumprir um papel essencial para garantir um futuro melhor para o nosso país. O que vi durante a minha trajetória foi muito mais um afastamento dos jovens da política do que um engajamento comprometido com a mudança.


Eu vivi de maneira muito próxima os protestos que aconteceram em 2013 e, no ano seguinte, me candidatei a deputada estadual pelo Estado de São Paulo. Senti na pele a fúria e o descontentamento da população em relação à política brasileira, todavia, vi pouca vontade de enfrentamento. Um dos meus principais focos durante a campanha foi o de mostrar o poder de cada cidadão, não só no seu poder de decisão, mas no poder de ação.


Conheci muitos jovens e pessoas especiais, com grandíssima capacidade de ação em suas comunidades, porém os vi afastando-se da política com medo de destruir o que com tanto amor construíram. Afinal, abraçar os trabalhos sociais exige muito mais do que dedicação, mas também comprometimento, abdicação e compaixão.

Assim, tive a oportunidade de colaborar com o empoderamento de muitas destas brilhantes pessoas que conheci, os verdadeiros heróis do dia a dia, e hoje tenho orgulho de ver que muitos deles resolveram encarar de frente os desafios da política, lançando-se candidatos e, mais do que tudo, estando conscientes de todos os prós e contras dessa escolha. Nessa empreitada de me lançar candidata, obtive o apoio de mais de 10 mil pessoas, o que muito me impressionou por ser a minha primeira eleição, porém, mais do que isso, me fez ter certeza de que fiz as escolhas certas.


Não foi e não é nada fácil esse caminho. As pessoas não escolhem ser políticas, todos nós somos seres políticos, faz parte da nossa vivência em sociedade. Aceitar o desafio de encarar a política passa então a ser quase um chamado, uma vocação. É pensar que você será julgado e colocado na vala comum de imediato e, mesmo assim, seguir em frente, pois, quando se tem certeza de que você é diferente e quando as pessoas passam a enxergar isso, tudo ganha sentido. O lado humano de exercer a atividade política é este, lidar diariamente com o julgamento. Porém, a recompensa de você poder de fato impactar positivamente a vida das pessoas faz tudo valer a pena.


Assim, entendo que nós, jovens, especialmente a chamada geração Y, temos um papel essencial para garantir o futuro do nosso país. Nós somos a transição entre a velha e a nova política. O nosso legado é o que vai garantir que nossos millennials sejam protagonistas de uma política ética, transparente e, acima de tudo, que respeita os cidadãos e honra o nosso país.
Em agosto de 2016, tive a oportunidade de participar da Youth Assembly at United Nations. Lá, conheci jovens do mundo inteiro que estão comprometidos em tornar suas comunidades um lugar melhor. Foi extremamente inspirador ver tantos jovens que se dedicam a isso desde cedo. Esse foi um dos poucos momentos em que não houve solidão e percebi que nós nunca estivemos sozinhos. Aquilo que parecia tão pequeno, aquelas pequenas ações que eu estava fazendo a nível local, passaram a fazer todo o sentido quando pudemos combinar todas essas pequenas ações e ver o tamanho a que podemos chegar JUNTOS.


Portanto, hoje percebo que o meu papel não é apenas ser uma boa gestora, comprometida com a ética, transparência e com foco em resultados e no profissionalismo. Vejo que a minha grande missão é também inspirar os jovens e humanizar essa atividade. Mostrando que atraindo pessoas de bem para o governo e elegendo pessoas efetivamente comprometidas com a sociedade, podemos mudar o quadro e a situação política do Brasil. E isso só depende de entendermos a nossa força.

No encontro anual dos Lemann Fellows e Talentos da Educação de 2017, quando o Jorge Paulo nos perguntou quem de lá seria o futuro presidente, só pude me sentir inspirada por ver que não apenas eu, mas muitos de nós nos levantamos e dissemos que aceitaríamos o desafio. Saber que temos pessoas tão brilhantes e competentes, corajosas o suficiente para encarar a política de frente, é o que me faz ter certeza de que, sim, devemos ter esperança e temos o dever de inspirar e atrair cada vez mais pessoas para essa causa.


Ter instituições de tamanho renome direcionando as suas redes de pessoas efetivamente comprometidas com o país para esse caminho, tendo casos de sucesso como o Vetor Brasil, Ensina Brasil e Agenda Brasil do Futuro, que, por meio de jovens, têm atraído ainda mais jovens para ter vivências no setor público, nos dá a certeza de que, muito em breve, grandes mudanças acontecerão em nosso país e com toda a certeza estaremos protagonizando muitas delas.

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Juliana Cardoso é Lemann Fellow e Líder RAPS. Formou-se no mestrado em Administração Pública na School of International and Public Affairs da Universidade Columbia com bolsa de estudos oferecida por uma parceria entre Fundação Lemann, RAPS e Instituto Arapyaú. É graduada em Engenharia Ambiental, especialista em Resíduos Sólidos e pós-graduada em Administração de Empresas pela Fundação Getúlio Vargas, com foco em Empreendedorismo, pela Babson College.

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