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4 abril 2019 | 00h00

6 Aprendizados sobre Inovação e Diversificação de Ensino

Saiba tudo que aprendemos em uma expedição para Nova York para conhecer escolas que estão inovando em suas práticas

Por Gabriela Néspoli

Analista de projetos em Inovação e Educação, na Fundação Lemann, e professora de Empreendedorismo e Design na Escola Vereda

Turmas com alunos muito defasados, outros muito avançados. Estudantes com diferentes ritmos de aprendizagem e formas de demonstrar o seu conhecimento. Levante a mão a professora ou o professor que nunca se viu nesse cenário ao preparar suas aulas. 

É comum a nós, educadores, o desafio de planejar aulas. Aulas que não só atendam à diversidade de perfis de nossos alunos, mas, acima de tudo, engajem profundamente cada um deles, tornando-os protagonistas de seus processos de aprendizagem. 

 Investigar e fortalecer práticas de diversificação de ensino é um caminho para promover processos de ensino e aprendizagem mais significativos. Além disso, ajuda a combater questões comuns às escolas públicas brasileiras como defasagem, desengajamento e evasão. Pensando nisso, a Fundação Lemann foi para uma expedição em Nova York a fim de conhecer escolas, educadores e “makers” que estão inovando em suas práticas didáticas, buscando encontrar respostas a tais desafios. 

Tive a oportunidade de representar a Fundação Lemann nesta viagem e visitar seis escolas privadas - NYC Makerspace, Portfolio School, Avenues New York, Marymount School, The Alt School, The Blue School - além de participar da 8ª conferência FabLearn, voltada para a aprendizagem maker, ou “mão-na-massa”. Reuni aqui alguns dos principais aprendizados para compartilhar com vocês:

1. Aprendizagem baseada em projetos + aprendizagem mão na massa

Entre as diferentes abordagens que podem ser combinadas para permitir processos de ensino-aprendizagem mais diversos e inclusivos, as mais utilizadas pelas escolas visitadas são essas. 

Tanto a aprendizagem baseada em projetos quanto a aprendizagem criativa ou “mão-na-massa” são baseadas na Teoria Construcionista de Seymour Papert, que considera que uma das principais formas de se aprender é construindo algo - seja um projeto, uma apresentação ou um objeto/dispositivo. Essas abordagens podem ser desenvolvidas em laboratórios maker ou nas próprias salas de aula e espaços coletivos escolares, como ocorre na Portfolio School, The Blue School e Alt School.

→ No Brasil, a Fundação Lemann já colabora com o compartilhamento destas práticas, apoiando a Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa, e a implementação de laboratórios maker nas redes de Sobral e de São Paulo.

 → Dicas para começar:
Professores: Portal da Rede Brasileira de Aprendizagem Criativa (Aqui você encontra práticas, projetos, referências)

Gestores: Guia LED (Laboratório de Educação Digital) feito em parceria com a Secretaria Municipal de Educação de São Paulo

2. Aulas significativas são amparadas por currículos contextualizados, co-construídos e acessíveis aos estudantes

Para equilibrar o ensino de conteúdos com o desenvolvimento de competências, todas as escolas contam com currículos que contém objetos de conhecimento pertinentes ao seu território educativo e determinam as principais competências a serem desenvolvidas em cada disciplina e ano escolar (semelhante à estrutura da nossa Base Nacional Comum Curricular). 

No caso da escola Avenues, os alunos do 3º ano do Ensino Médio são apresentados à matriz de competências que precisam desenvolver durante o ano escolar e, a partir dela, elaboram projetos visando um conjunto de tais competências. As demais habilidades devem ser atendidas por meio de planos de estudos complementares, elaborados pelos próprios estudantes, que podem contar com a assistência dos professores para mediar o seu processo de aprendizagem.

3. Avaliações constantes são importantes para obter dados de aprendizagem e desenvolver autonomia e responsabilidade nos alunos

Aplicar avaliações com frequência garante uma fonte contínua de dados de aprendizagem dos alunos, que se tornam um elemento básico para os professores planejarem suas aulas. Esta prática provoca o professor a assumir a posição de pesquisador, dentro e fora da sala de aula - entendendo quais estratégias dão certo e replanejando suas estratégias de ensino. Vale destacar que as avaliações não precisam ser formais, extensas, e tampouco corrigidas exclusivamente pelos professores, o que em geral exige bastante tempo. 

Na The Blue School, por exemplo, auto-avaliação e avaliação entre pares (no caso de atividades em grupo) são aplicadas com frequência, ajudando a fomentar a responsabilidade do aluno em relação à sua postura durante as atividades. 

Na Portfolio School, a auto-avaliação compreende inclusive a reflexão sobre elementos sócio-emocionais vivenciados nos projetos, sendo frequentes discussões sobre insegurança e motivação, desistência e resiliência no processo de aprendizagem. 

4. Tão importante quanto aplicar a avaliação é falar sobre os seus resultados

Os momentos de devolutiva são fundamentais para construir vínculos de confiança entre os alunos e o professor, além de fortalecerem a visão de que errar faz parte do processo de aprendizagem (e a construção de uma mentalidade de altas expectativas). Isso colabora para que o aluno se sinta confiante para sinalizar quando não compreendeu algum conceito durante a aula e, ao contrário de se dispersar, permaneça engajado no restante da atividade. 

5. A valorização do tempo extraclasse dos professores é fundamental

Todas as escolas visitadas remuneram os educadores pelo seu tempo de planejamento e avaliação de atividades, sendo comum a existência de momentos para o planejamento interdisciplinar, comum à aprendizagem baseada em projetos.

Há também um incentivo à cooperação entre os professores, sendo comum nas escolas Alt e Marymount a negociação de tempos de aula entre educadores de disciplinas diferentes para que alunos possam utilizar momentos de outras disciplinas para concluir atividades em aberto.

Neste material é possível entender como políticas públicas podem auxiliar isso nas escolas.

6. Tecnologia é importante para ampliar possibilidades pedagógicas, mas a força do modelo parece morar no vínculo entre a escola e o mundo ao seu redor

É comum a visão que para inovar, desenvolver projetos interdisciplinares ou promover atividades criativas é preciso dispor de muitos recursos e dispositivos tecnológicos. Não há dúvidas do valor de tais elementos na construção de atividades pedagógicas instigantes. No entanto, na visão dos educadores que conheci, o principal fator de sucesso de seus modelos é oferecer oportunidades para os alunos se engajarem em problemas reais do mundo contemporâneo, em questões pertinentes à sua realidade, fazendo reflexões profundas e prototipando soluções. Curiosamente, aqui o único componente que não pode faltar é a criatividade.


Esses e outros aprendizados serão aproveitados pelos projetos da Fundação Lemann, implementados em escolas públicas ao redor do Brasil. Continua acompanhando a gente e fique ligado nas próximas novidades!

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