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23 novembro 2021 | 00h00

Como trabalhar a equidade racial nas salas de aulas?

A professora Sheila Azevedo pode te inspirar

No mês da Consciência Negra uma pergunta fica ainda mais evidente: como apresentar às crianças da educação básica o significado de equidade racial e a sua importância na sociedade? A professora Sheila Azevedo, que também é ativista do movimento negro, já se fez este questionamento. Depois de muito estudo, descobriu a resposta: algo simples, efetivo e inspirador.

Segundo ela, tudo parte do princípio de que o currículo escolar tem que ser vivo, ou seja, adaptável às necessidades do seu contexto. E se tratando do país onde  85% da população brasileira percebe algum nível de racismo presente nas escolas (dados do Data Favela), apresentar a Educação das Relações Étnico-raciais é o primeiro passo para diminuir essa porcentagem alarmante.

“Não adianta comprar ideias, pacotes fechados de coisas que são trabalhadas em outros países e não preconizar a nossa realidade local. O currículo tem que abrir as portas para a afro-cultura, para ser contada de forma correta a história dos negros que foram trazidos para o Brasil. Eu, Sheila, venho de uma realidade na década de 1980 em que estudei em livros didáticos que traziam o negro de forma jocosa, trazia o negro de forma ruim, trazia a pessoa negra como algo negativo. E quem ia querer ser negro? Quem ia querer se assumir como negro, como homem negro, como mulher negra, se tudo de ruim era colocado na pessoa negra?”, reflete.

De uma família inter-racial e ciente de que sua trajetória lhe deu uma perspectiva aprofundada sobre o assunto, há alguns anos a professora trabalha com seus pequenos alunos da educação básica em Campo Grande (MS), dinâmicas cheias de significado, reflexão e acolhimento, para construir a identidade positiva que sempre desejou e a representatividade que não encontrava na sua infância. 

“É muito importante, desde muito cedo, você construir essa identidade positiva com as crianças negras, para que elas descubram a beleza delas e se reconheçam como crianças negras. Reconheçam que existem pessoas negras bem-sucedidas, pessoas negras que estudam, pessoas negras que são cientistas, modelos, apresentadoras de TV, advogadas, médicos. Que eles são bonitos, têm um futuro e a possibilidade de serem o que quiserem”, salienta. 

Um caminho lúdico

Para concretizar este objetivo, a professora se desconstruiu, se sensibilizou sobre as variadas formas de preconceitos e foi atrás de novos conhecimentos que respeitam as diferenças. Todo este processo refletiu em sua aparência, conforme conta, e se na infância precisava usar o seu cabelo crespo sempre preso e na juventude se tornar adepta do cabelo liso, hoje orgulhosamente exibe seus fios naturais, dando um exemplo de autoestima, confiança e empoderamento que deseja transmitir para seus alunos e alunas. 

A mudança iniciada internamente, posteriormente notável por fora, logo atingiu outros aspectos ao seu entorno: até seus instrumentos de trabalho foram observados e ganharam diferentes características. “Hoje eu tenho uma caixa de bonecas pretas na minha sala. É importante as crianças terem contato, para que elas se reconheçam nessas bonecas”, garante, acrescentando que na sua juventude não teve este tipo de identificação. 

Para a professora Sheila é importante despertar nas crianças o aspecto positivo e belo da negritude, para que se identifiquem, desde a infância, e saibam que podem sonhar e ser quem quiserem
Fonte: (Crédito da foto: arquivo pessoal).

Além das bonecas, a professora trabalha com livros que abordam a cultura e a história afro-brasileira e africana. Entre as obras literárias, cita o livro “Cada um Com Seu Jeito, Cada Jeito é de Um!”, da autora Lucimar Rosa Dias, que permite dialogar sobre as diferenças e diferentes áreas do conhecimento, como História, Geografia e Língua Portuguesa. Paralelamente, possibilita ensinar à criança negra e à criança não-negra sobre o respeito à igualdade de direitos e, também, a educação antirracista.

“É legal trabalhar a Cinderela, a Branca de Neve e os Sete Anões, trabalhar os contos fantásticos, os contos maravilhosos, é legal. Mas também é legal para a criança que é negra mostrar que existem também histórias importantes africanas, histórias onde tem reis que são negros, histórias onde tem rainhas que são negras, que são pessoas importantes”, discorre lembrando que para ser compreendida, prefere abordagens leves, divertidas e lúdicas, com brinquedos, brincadeiras, histórias infantis e cantigas, para que naturalmente as crianças sejam envolvidas neste universo de diferenças, empatia e cordialidade. 

Apesar de sua dinâmica inspiradora dentro das salas de aula, Sheila pontua que envolver as crianças nesta temática é o seu papel, já que em 2003, foi promulgada a Lei nº. 10.639/03 que torna obrigatório o Ensino de História e Cultura Afro-brasileira em todas as escolas do país.

Comece por aqui

Se você também quer aplicar na sala de aula, dinâmicas a favor da diversidade, a trajetória da professora Sueli pode te ajudar:

  1. 01

    Busque literaturas infantis tendo negros como protagonistas;

  2. 02

    Conheça mais sobre os autores destas obras;

  3. 03

    Procure por artefatos, bonecas e brincadeiras de outras etnias;

  4. 04

    Use os conhecimentos adquiridos para desenvolver projetos interessantes;

  5. 05

    Observe a participação das crianças;

  6. 06

    Adapte para outras faixas etárias;

  7. 07

    Envolva mais turmas;

  8. 08

    Compartilhe os resultados.

Saiba mais

  1. 01

    Você sabia que os alunos negros são a maioria no ensino básico público?

    Neste estudo, outro dado revela que os alunos negros estão mais expostos à violência, do que os alunos brancos: 37% dos alunos negros já sofreram pessoalmente algum tipo de violência em suas escolas e 58% dos professores negros já sofreram pessoalmente algum tipo de violência em suas escolas.
  2. 02

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    Especialistas falam das semelhanças entre Brasil e EUA no contexto das desigualdades raciais e da necessidade de políticas públicas.

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