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3 fevereiro 2022 | 00h00

O que esperar da Educação em 2022?

Com o início do ano letivo, educadores se organizam para diminuir o impacto de tantas adaptações nos últimos  meses

A educação mudou com a pandemia. Não foi somente o escritório que passou a ser dentro de casa e as lojas que se renderam ao universo digital, o ensino remoto virou uma realidade da noite para o dia, contrariando a falta de preparo, ferramentas e acesso de professores e alunos. Agora, com o novo ano letivo e o retorno presencial previsto para a maioria dos municípios brasileiros, fica a questão: o que esperar deste momento? Como nos preparar e ajudar nossos alunos a atenderem a expectativa desta rotina?

Fonte: Esin Deniz - Fotolia.

Professora de Biologia do Ensino Médio da Rede Estadual e coordenadora pedagógica dos anos finais na Rede Municipal, Juliana Reis (Núcleo Conectando Saberes de Uberaba/MG), não acredita em retrocessos, por isso, considera que a educação híbrida veio para ficar, desde que sejam solucionados os problemas enfrentados nos últimos meses, como a falta de conectividade nas escolas e incentivo à formação continuada dos educadores. 

“Tivemos que incorporar as ferramentas tecnológicas ao trabalho pedagógico de uma forma muito rápida. Buscamos metodologias ativas novas para o trabalho remoto e híbrido. Aprendemos com o carro em movimento! No entanto, esbarramos em um problema sério nas escolas públicas, que é a conectividade e a dificuldade de acesso dos alunos e professores à internet”, observa. "O serviço público precisa propor políticas públicas para solucionar este problema, bem como a valorização do profissional mediante pagamento do piso nacional e de um plano de cargos e salários estruturado. O investimento em formação continuada do professor é algo de extrema importância para que esse profissional sinta-se preparado para atuar em sala de aula frente a todas essas mudanças e exigências”, enfatiza Juliana.

5G poderá levar internet às escolas ainda desconectadas>

A educadora Marlúcia da Silva Souza Brandão (Núcleo CS de Marataízes/ES) concorda que o setor mudou e todos os envolvidos precisam acompanhar esta transformação. “A forma de ensinar precisará de novas estratégias e muito mais empenho e dedicação de todos. Impossível ensinar em 2022 com um modelo anterior. O receio sempre vai existir, mediante o cenário nacional, porém com as vacinas destinadas à faixa etária de cinco anos aos 12 anos, estamos otimistas e continuaremos tomando todas as medidas de segurança”.

Do outro lado do país, o professor de Língua Portuguesa, na Rede Pública Municipal, José Gilson Lopes Franco (Núcleo de Fortaleza/CE), divide a mesma opinião: voltar ao modelo de ensino tradicional, como a única possibilidade, seria um retrocesso. 

“Já é possível ver a escola tradicional pelo ‘retrovisor’ da docência. O contexto da pandemia nos obrigou a encontrar saídas e soluções que possibilitassem a oferta do ensino público aos nossos estudantes, assim testemunhamos a reinvenção da própria docência”, narra o educador com 15 anos de experiência citando que, durante as transformações da pandemia, os professores foram ajudando-se mutuamente e partilhando os conhecimentos assimilados, enquanto, as relações também foram modificadas. “As famílias passaram a se relacionar com os professores e com a escola através de aplicativos de mensagens, em grupos que se formaram às dezenas, possibilitando a aproximação, o diálogo a partir da contribuição valiosa das famílias, fundamental para aquele momento”.

Caminhos possíveis

Imaginando o que virá pela frente, o professor avalia que para superar os desafios a primeira coisa é reconhecê-los, saber quais são as potencialidades e as fragilidades de cada estudante. “Na escola de tempo integral temos um fator preponderante para enfrentar esse desafio: o tempo. Com uma carga horária maior, que contempla seis horas-aula por semana, disporei de mais tempo para identificar as ‘defasagens’ e, consequentemente, mobilizar estratégias para a resolução desses desafios; mas é importante realizar e acompanhar uma boa avaliação formativa; aplicar testes e formulários através dos quais possamos atestar as habilidades dos estudante; incentivar os estudantes, conhecê-los”, garante, “demonstrar interesse sincero na evolução deles; buscar aproximação das famílias; manter diálogo estreito com a coordenação e com os professores da turma; realizar avaliações diagnósticas, buscar outras formas de avaliar o aprendizado dos estudantes; inovar nas metodologias; utilizar o planejamento reverso; buscar o aprimoramento, a formação, o conhecimento sobre o novo contexto educacional que ora se configura”.

Para Marlúcia, os desafios deste retorno são realmente diversos, indo da falta de motivação dos professores e alunos mediante ao período pandêmico, até dificuldades variadas na aprendizagem. “Muitos docentes estão assustados com o nível de aprendizado dos alunos, por vezes se esquecem que esse problema foi mundial e não local”, pontua. "Alguns alunos das séries iniciais também estão sem as habilidades mínimas que normalmente são adquiridas na Educação Infantil, precisando de apoio e olhar diferenciado”, salienta. Como solução, Marlúcia frisa que adotará a pedagogia do acolhimento, do cuidado e do respeito. Como fazer isso na prática? Dando suporte para a equipe pedagógica e gestora, otimizando o tempo e os espaços, utilizando os espaços de planejamento em momentos efetivos de trocas e de realinhamento. 

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Mestre em Educação, Juliana também visualiza o retorno em 2022 como um ponto pedagógico crucial para diagnosticar as defasagens de aprendizagens causadas pela pandemia e propor um trabalho de recuperação e consolidação de conceitos que não foram apreendidos. E na esfera social, a necessidade de resgatar o vínculo professor-aluno, aluno-aluno que, em suas palavras, “se faz na relação presencial de intersubjetividade que caracteriza a educação”. 

Passo-a-passo para recuperação da aprendizagem, da Profe Juliana:
  1. 01

    Promover o diagnóstico a partir das avaliações externas estaduais e municipais. 

  2. 02

    Propor um currículo flexibilizado, objetivo, pautado na BNCC, que contemple habilidades essenciais para o aluno.

  3. 03

    Executar um trabalho pedagógico propositivo, dialógico, ativo agregando toda aprendizagem com as ferramentas tecnológicas e metodologias ativas cujo foco é a aprendizagem efetiva do aluno em cada disciplina. 

  4. 04

    Trabalhar em parceria, atuando sobre os casos graves de defasagens em tempo real, poderá oferecer qualidade à aprendizagem dos alunos e o sucesso, evitando reprovação e evasão escolar.

Mesmo otimistas com este recomeço e seguindo de forma criteriosa os protocolos de biossegurança, as professoras contam sentir receio do retorno presencial, visto o aumento no número de casos da variante Ômicron. “Espero que os profissionais da educação e alunos estejam 100% vacinados, para que com mais segurança, possamos dar início às aulas. Embora saibamos que os sintomas são mais leves, ainda nos preocupa”, confidencia a professora Juliana.

José Gilson considera que, apesar das dúvidas, há um sentimento muito importante, animador e encorajador, capaz de contagiar a todos, visto que esta será a primeira vez, depois de quase dois anos, que 100% da turma estará de volta. “Dependemos dessa energia, que se espalha positivamente pelos ambientes da escola. Esse reencontro presencial, depois de tanto tempo isolados e afastados, está tendo um significado muito especial e nos deixou a todos muito emocionados. Teremos a alegria de ver as turmas na sua totalidade, todos os alunos juntinhos. No período em que ocorreu o ensino híbrido, as turmas foram divididas e somente a metade de cada turma vinha para a escola”.

Revisando e elegendo os maiores obstáculos deste ano, Juliana sugere: “primeiro, garantir a segurança de alunos e servidores da educação na escola mediante o cumprimento do protocolo de biossegurança ao combate à pandemia. Propor um trabalho pedagógico planejado, intencional, objetivo para reduzir as defasagens de aprendizagem e minimizar as desigualdades educacionais no Brasil. O acesso à internet e conectividade das escolas precisa de solução rápida. Formação de professores, bem como cuidado com o bem-estar dos servidores”. 

Checklist para superar os desafios de 2022

De acordo com a professora Juliana Reis, a pandemia evidenciou que precisamos uns dos outros. Pensando nisso, ela pretende superar todos os desafios citados anteriormente com uma lista de ações, incluindo atitudes em conjunto no contexto educacional. Confira:

  • Diálogo, trabalho coletivo, integrado e planejado;

  • Atuação mediante os marcos legais como LDB, Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, BNCC, leis estaduais e municipais;

  • Lideranças educacionais que dialoguem com o setor público e mobilize-o a adotar políticas públicas efetivas;

  • Solução coletivas, unindo forças e trabalhando em rede.

"Acredito que o futuro do Brasil para reduzir as desigualdades sociais - fome, analfabetismo - passa pela educação básica. Por isso, somente o trabalho sério, dialógico, coletivo de professores, família, alunos, governantes é o caminho para a transformação do nosso país. A escola pública de qualidade deve ser o objetivo de todos e isso só será possível, se nos dermos as mãos”, destaca. Marlúcia finaliza, salientando que, “a pandemia foi um período de angústia, mas de muita reflexão para todos, principalmente dentro do espaço escolar. As escolas que estavam com receio de mudança, agora adquiriram subsídios para essa perspectiva e acredito que nunca mais existirá uma escola nos moldes anteriores. Além de ofertarmos uma troca de conhecimentos, precisamos de uma valorização do outro e da própria vida."

E você, o que espera de 2022? E como pretende lidar com este novo ano? Talvez todas as respostas estejam na última - e singela - reflexão do professor José Gilson: não deixar de acreditar no poder dos educadores e de seus esforços.

“Acredito muito no trabalho dos professores. É o trabalho do professor que faz toda a diferença para a transformação que queremos. E é no chão das realidades, em cada sala de aula, com uma docência comprometida que essa mudança ocorrerá. Não paremos de acreditar, não cansemos de sonhar”. 

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