Conteudo Cabeçalho Rodape
1 janeiro 2019 | 10h00

Aos 10 anos, menino de escola pública é escritor

O aluno sonha em publicar um livro: ele já escreveu todos os poemas e agora conta com um colega de classe para ilustrar suas histórias

Com um riso fácil e o jeito leve de criança, Antônio Levi recebe elogios de todos os lados: professores, gestores, coordenadores e da própria família. Na Escola Municipal Fundamental Antonio Benjamin de Moura, em Juazeiro do Norte (Ceará), município parceiro da Fundação Lemann no programa Formar, Levi encontra um ambiente que lhe dá suporte. Aos 10 anos, respaldado por um terreno fértil para plantar sua criatividade, o menino gosta de conversar e redigir poemas.

“Ele demonstra uma forte necessidade de expor seus sentimentos pela escrita”, conta Antonio Marcelo, gerente de acompanhamento pedagógico da secretaria de educação do município. O diretor da escola, Pedro Nascimento, também já foi coordenador pedagógico e incentiva Levi a se expressar pelas palavras: “Ele escreve com muito prazer e desenvoltura. A história dele começou a ganhar mais cores no final de 2017, quando passamos a olhar mais de perto para suas capacidades”. Foi nessa época que a aptidão do pequeno escritor foi percebida, durante um festival de talentos promovido pela escola. A mostra premiou alunos com medalhas pela participação e incentivou a criatividade dos jovens com saraus, arte, dança e coral.

Antônio Levi lendo um livro na escola
Antônio Levi, durante uma aula
Fonte: Lucilene, coordenadora pedagógica.

"Sonho em escrever um livro"

Para Levi, os poemas são a forma de expor a imensidão de sentimentos que o compõe. 

“Quando o coração diz alguma coisa, sobre um professor ou uma tarefa, me sinto inspirado! Sento e escrevo na hora”, explica, “Meu grande sonho é publicar um livro, quero juntar o que já escrevi e falar de tudo um pouco”. A aula que mais o encanta é a de Geografia, “Gosto do jeito que a professora fala e das coisas que me conta”. Levi já encontrou um desenhista para ilustrar as páginas de sua obra: “O Raí é meu amigo, ele é bem legal, vai desenhar tudo, já combinamos”. E os primeiros exemplares já tem destino garantido: vão para os professores que lhe inspiram. “Também vou deixar muitos nas bibliotecas das escolas, para todo mundo poder ler”.

A publicação da coletânea de Levi ainda não foi viabilizada. “Estamos apoiando a organização e revisão dos textos”, afirma Antonio Marcelo. Os poemas retratam a vida familiar, a realidade do seu dia a dia rural e as experiências com a escola. “É um menino simples que mora na zona rural com o avô e a avó. É espontâneo e explosivo na mesma medida. Precisa de afeto, é amoroso e transborda emoção nas suas criações”, diz Pedro, “Toda semana ele produz poemas e me traz em um pedaço de papel, precisamos potencializar essa voz”, completa.

Um dos poemas de Levi foi em homenagem a sua professora favorita, Maria Merci, a tia Dinha:

Minha professora

Desde que estudei na escola,
na série do primeiro ano!
Eu conheci “tia” Dinha,
a professora que amo.

Ela não me deixava na mão,
queria que fosse minha vizinha,
teria muito mais aulas,

Como meu amor: “tia” Dinha.
Tive muita sorte
De aprender com você
Imagine tia sendo
Apresentadora de TV!

Essa estrofe em negrito
Foi para demonstrar um desenho.
Fiz ele pensando em você!
pelo o amor que por tia eu tenho.

Antônio Levi e tia Dinha, sua professora
Fonte: Lucilene, coordenadora pedagógica.

O incentivo à leitura é responsabilidade de todos

Para Silvana Tamassia, diretora da Elos Educacional, ler diariamente com os alunos é uma das formas de garantir a evolução na aprendizagem. Para ela, a responsabilidade do incentivo à leitura é de toda a comunidade escolar, pais e funcionários. “Qualquer coisa que se pense em fazer na escola deve envolver a leitura”, avalia. Esse envolvimento geral garante que os alunos captem a mensagem de que ler é, de fato, relevante e vai além da Língua Portuguesa. 

Para escrever bem: muita leitura

Ler e escrever são coisas conectadas: ao ler, o aluno amplia o vocabulário e melhora o acervo para sua escrita. “Ele não usará um marcador temporal como ‘em seguida’ se não tiver lido isso em um contexto que faça sentido. Para um aluno ter um texto rico não basta apenas escrever mais, é preciso criar repertório, com mais leituras e informações novas”, finaliza. 

EEF Antonio Benjamin faz parte do programa Formar

Desde o começo de 2017 a EEF Antonio Benjamin, onde Levi estuda, participa do programa Formar, que apoia Juazeiro do Norte e outras 23 redes públicas de ensino. O programa é uma parceria pela aprendizagem dos alunos e alunas e, como parte dessa união, o diretor da escola e a coordenadora pedagógica estão realizando o curso Gestão para a Aprendizagem, ministrado pela Elos. “Uma dificuldade grande dos professores é ensinar os alunos o gosto pela leitura. Nesse sentido, o curso tem sido muito bacana porque sai da teoria e nos mostra na prática o que faz diferença no dia a dia”, conclui o diretor.

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