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22 novembro 2023 | 00h00

Aluno alfabetizado até o 2º ano avança mais em português e matemática no 5º ano

Dados inéditos corroboram com a importância da alfabetização adequada, ou seja, até o 2º ano do ensino fundamental, no pleno desenvolvimento dos estudantes, com reflexos positivos em toda a sua trajetória escolar: essas crianças têm 2,6 mais chances de atingirem um nível avançado de aprendizagem no 5º ano do Ensino Fundamental. É o que revela pesquisa do Laboratório de Estudos e Pesquisas em Economia Social (LEPES) da Universidade de São Paulo, campus Ribeirão Preto, em parceria com pesquisadores da Universidade Federal do Ceará e apoio da Fundação Lemann e do Instituto Natura. Ancorado nas avaliações de desempenho dos estudantes das redes de ensino do Ceará em 2016 e 2019, além dos dados de 2019 do Saeb, o estudo conseguiu analisar o desempenho dos mesmos alunos quando estavam no 2º ano e depois no 5º ano do fundamental.

A probabilidade de um aluno alcançar o nível avançado de proficiência em Língua Portuguesa no 5º ano é de 55% se ele foi alfabetizado no tempo adequado e de apenas 21% se não foi. Em Matemática, essa diferença é de 40% entre os alunos que aprenderam a ler e escrever até o 2º ano do ensino fundamental e de 15% entre os que não aprenderam nesta etapa. Nesse sentido, os alunos cearenses adequadamente alfabetizados que chegam ao 5º ano do ensino fundamental sem reprovações têm, em média, 2,6 vezes mais chances de alcançar o desempenho avançado do que um aluno que não teve oportunidade de ser adequadamente alfabetizado até os sete anos de idade.

“A diferença considerável entre o desempenho de aprendizagem na trajetória dos estudantes que foram alfabetizados no tempo adequado e os que não foram nos acende um sinal de alerta que reforça a importância das crianças estarem lendo e escrevendo até o 2º ano do ensino fundamental. A alfabetização é um compromisso de todos e acreditamos que um país justo e desenvolvido só será possível com todas as nossas crianças adequadamente alfabetizadas”, afirma Daniela Caldeirinha, Diretora de Alfabetização da Fundação Lemann. 

O Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP) fornece um quadro com a escala de proficiência do SAEB trazendo algumas das habilidades dos estudantes de acordo com a série e disciplina em que se encontram. Exemplos dessas habilidades no 5º ano são: um estudante no nível avançado de Língua Portuguesa é capaz de “identificar opinião e informação explícita em fábulas, contos, crônicas e reportagens”. Já em Matemática, esse estudante é capaz de “converter a duração de um intervalo de tempo, dado em horas e minutos, para minutos”. Mais detalhes sobre essas habilidades estão disponíveis no site do Inep.

Além do nível avançado, a pesquisa também explora a probabilidade de um aluno alcançar o nível adequado: se o estudante foi alfabetizado até o final do 2º ano, então a probabilidade de estar no nível adequado em Língua Portuguesa no 5º ano é de 85%, enquanto se não foi alfabetizado nessa etapa, essa probabilidade é de 57%. Já em Matemática, a proporção é de 74% e 42%, respectivamente.

“Este estudo corrobora a visão de que a alfabetização no tempo adequado é fundamental para que o aluno possa se desenvolver plenamente e continuar sua trajetória escolar com sucesso. A alfabetização até o 2º ano do Ensino Fundamental é um direito das crianças. Sabemos que não ser alfabetizado no tempo adequado prejudica toda a trajetória escolar do aluno, se refletindo em altas taxas de reprovação, distorção idade-série, taxas de evasão escolar, acesso ao mercado de trabalho e mais limitações para o desenvolvimento do seu pleno potencial”, afirma Marcia Ferri, gerente de projetos do Instituto Natura.

Esta é a primeira pesquisa no Brasil que analisa a evolução da trajetória escolar dos alunos nesta etapa do ensino básico e considera a pesquisa Alfabetiza Brasil, lançada pelo governo federal em junho e que estabeleceu o parâmetro para alfabetização, considerando como alfabetizada as crianças que têm nota igual ou maior que 743 pontos na escala Saeb. 

“Apesar de baseada em dados do Ceará, acreditamos que as conclusões da pesquisa são pertinentes à realidade do Brasil como um todo. Ela parte de uma amostra bastante expressiva, com dados de mais de 70 mil alunos, e analisa a evolução dos mesmos alunos ao longo do tempo, permitindo isolar de forma mais precisa os efeitos da não alfabetização na idade prevista. Os dados mostram que aprender a ler e a escrever no tempo adequado é um fator essencial para o avanço da aprendizagem nos anos seguintes”, diz Daniel de Bonis, diretor de Conhecimento, Dados e Pesquisa da Fundação Lemann. 

De acordo com o Saeb do 2º ano aplicado em 2019, o Ceará possuía 73,5% de estudantes alfabetizados quando restringimos para escolas na rede pública, tendo o maior índice de alfabetização do Brasil. Embora o estudo use como referência os números do Ceará – estado que disponibilizou informações para viabilizar a análise –, os pesquisadores fizeram um exercício para aproximar os resultados de escolas que, em média, têm características parecidas com as do restante do Brasil. Os resultados dessa análise mostram que estudantes alfabetizados adequadamente até o 2º ano do Ensino Fundamental teriam, numa projeção nacional, 3,2 vezes mais chance de estarem no nível avançado de Português e 4 vezes mais chance de estarem no nível avançado de Matemática.

“Com este estudo, conseguimos trazer evidências importantes que devem ser consideradas para a tomada de decisão no âmbito da política educacional de alfabetização dos municípios, estados e do governo federal. Isso só foi possível devido ao acesso a dados para a produção de conhecimento e fortalecimento da ciência", diz Roberta Biondi, pesquisadora do LEPES e coordenadora da pesquisa.

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